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23 de setembro de 2011
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18:34

PUCRS investiga 42 estudantes envolvidos em protestos

Por
Sul 21
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Estudantes que fazem oposição ao DCE da PUC realizaram protestos em junho deste ano. Universidade agora investiga 42 alunos, a maioria da oposição | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Felipe Prestes

A PUCRS está realizando uma sindicância para apurar conflitos entre dirigentes do Diretório Central de Estudantes (DCE) e integrantes do Movimento 89 de Junho, de oposição, ocorridos em junho de 2011, quando os oposicionistas iniciaram protestos pedindo maior lisura na eleição de delegados para o Congresso Nacional da UNE (Conune). A sindicância tem desagradado aos dois lados, mas especialmente ao Movimento 89 de Junho. Dos 42 estudantes que respondem à sindicância, 36 são da organização, e apenas seis são ligados ao DCE. “O intuito é de dissuadir o movimento”, avalia Lucas Dallagnol, do 89 de Junho.

Uma comissão designada para apurar os fatos deve entregar um relatório à Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários da PUCRS, que definirá as possíveis sanções. Elas podem ir de suspensão até a expulsão de alunos. A comissão começou a ouvir testemunhas na semana passada, com os depoimentos de seguranças da universidade. Nesta quinta-feira (22), foram ouvidas testemunhas arroladas pelos estudantes.

“Sindicância não apura agressões que denunciamos”, diz estudante

As críticas do Movimento 89 de Junho começam na criação da sindicância. A pró-reitoria designou a formação de uma comissão para apurar nove fatos preestabelecidos por ela própria. Os fatos envolveriam apenas a participação dos oposicionistas, como a presumida invasão do DCE e da PUC, por terem os estudantes do 89 de Junho acampado em frente ao diretório acadêmico, “obstruindo” – segundo aponta a própria pró-reitoria – o trânsito de pessoas na universidade e o acesso à sede do DCE.

“A sindicância não visa apurar nenhum fato sobre a gestão do DCE que nem tem estatuto, que não recebeu nenhum voto para ser eleita. Não tenta apurar as agressões que nós denunciamos”, afirma o estudante de Direito, Lucas Dallagnol.

Um exemplo, de acordo com Dallagnol, foi uma discussão acalorada no prédio do Direito entre dois estudantes de oposição e dois ligados ao DCE. “A sindicância investiga apenas os panfletos que o Movimento 89 de Junho estava distribuindo, que um dos alunos ligados ao DCE diz que eram ofensivos a ele. Nada sobre a atitude dos integrante do DCE”, relata.

O estudante afirma que o único entre os nove fatos elencados que cita integrantes do DCE é o caso que ganhou maior notoriedade à época: uma confusão que envolveu duas estudantes do Movimento 89 de Junho e alguns integrantes do diretório, homens, durante a eleição do Conune, brigando por uma urna. O tumulto foi registrado em vídeo. Ainda assim, Lucas também vê parcialidade no tratamento que a comissão tem dado a este fato. “A portaria cita apenas um ‘roubo de urna’, mas não fala das agressões de integrantes do DCE às meninas”, diz.

Eleição estudantil na PUCRS provocou manifestações de estudantes, contrários à postura do DCE | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Para oposição, a comissão é parcial

A comissão formada pela PRAC para apurar os fatos é formada por três professores e por um representante discente, que deveria ser escolhido por indicação do próprio DCE, mesmo que seja uma das partes envolvidas. Na tarde desta quinta, pela primeira vez o representante discente apareceu. É o aluno Braytner de Araújo, que foi acusado pelos integrantes do Movimento 89 de Junho de ter cometido uma agressão durante os tumultos.

“Eu nem o conheço. Ele foi indicado pela pró-reitoria”, garante Thiago Brozoza, presidente do DCE. Brozoza afirma que se isentou de participar da comissão e, em princípio, indicou como representante discente uma aluna de Biologia que não teria ligação com nenhum dos grupos. Segundo Brozoza, o Movimento 89 de Junho teria pressionado a aluna a não participar da comissão. Depois da desistência, o presidente do DCE garante que se eximiu de indicar alguém para a comissão e, por fim, a pró-reitoria teria indicado Braytner.

Na sessão desta quinta, os integrantes do 89 de Junho pediram o afastamento do representante discente. “Vou examinar a queixa dos estudantes”, garante o professor de Direito, Adalberto Pasqualotto, que preside a comissão. O professor diz que não pode responder sobre os fatos elencados na denúncia favorecerem a algum grupo. “A portaria não é elaborada pela comissão, nela estão definidos os fatos a serem apurados”, diz.

Sobre a conduta de Pasqualotto, também pairam reclamações dos estudantes. Ele estaria fazendo todas as perguntas às testemunhas, mesmo com outros dois professores na comissão, e ditando o que deveria ou não ser registrado em ata. “Tudo tem sido registrado, eles têm as cópias. A comissão tem procurado ser a mais imparcial possível”, diz Pasqualotto.

O professor se exime de responder sobre a queixa de que teria direcionado o depoimento dos seguranças da universidade. “Quem é parte se direciona com seu ponto de vista. É natural. Estudantes de um lado vão fazer algumas críticas e estudantes de outro lado, vão fazer outras críticas. Eu não posso me contaminar por isto”, afirma.

Em seus depoimentos, seguranças disseram que não houve agressão a meninas do Movimento 89 de Junho na confusão com a urna da eleição. O presidente do DCE concorda com a posição dos vigilantes. “Os seguranças disseram que não houve agressão e está muito claro no vídeo que não houve agressão nenhuma. Sempre foi uma orientação minha no DCE, para que fosse evitado confronto”, diz.

“Estamos receosos”, afirma o presidente do DCE

Os dois lados têm suas queixas ao trabalho da comissão. O presidente do DCE, Thiago Brozoza, afirma que a postura da entidade é de esperar o final dos trabalhos da comissão para avaliá-lo e tomar providências. “A gente não tem como ter uma posição oficial, porque não foi concluída a apuração. O DCE espera que tudo seja apurado, todos os confrontos, e que seja cumprido o regimento, tanto para o pessoal do Movimento 89 de Junho, quanto para o pessoal do DCE, que possa ter errado. Pessoalmente acho que expulsão seria muito forte para qualquer aluno”, afirma.

Ainda assim, Brozoza diz que alguns procedimentos da comissão têm deixado os integrantes do DCE receosos de que possa haver uma espécie de compensação. “Tenho medo que a PUCRS expulse alguém do DCE para compensar a punição a pessoas do 89 de Junho. Pode não ser, mas é o que a gente está sentindo”, diz.

“Tenho evitado me envolver na sindicância, mas pelos relatos de integrantes do DCE a comissão começou muito desorganizada”, critica. Brozoza reclama que a sindicância partiu de duas denúncias feitas por integrantes do DCE à Prefeitura do Campus. “Para nossa surpresa abriram prazo para defesa dos nossos integrantes que fizeram a denúncia. Ora, nós somos os autores, agora viramos réus”, exclama.


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