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22 de setembro de 2011
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20:27

Porto Alegre constrói ciclovias, mas cultura ‘carrocêntrica’ predomina

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Sul 21
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Porto Alegre constrói ciclovias, mas cultura ‘carrocêntrica’ predomina
Porto Alegre constrói ciclovias, mas cultura ‘carrocêntrica’ predomina
Foto: Ricardo Giusti/PMPA
A prefeitura de Porto Alegre marcou o Dia Mundial Sem Carro com o início da obra da ciclovia na avenida Ipiranga | Foto: Ricardo Giusti/PMPA

André Carvalho

Celebrado nesta quinta-feira (22), o Dia Mundial Sem Carro procura levantar a reflexão da sociedade sobre o uso excessivo dos veículos automotores e as consequências para as cidades e para o meio-ambiente. Em Porto Alegre, a data foi marcada com o início da construção da ciclovia na avenida Ipiranga – o prefeito José Fortunati participou de um passeio ciclístico pela manhã. A capital gaúcha terá mais ciclovias, mas ainda as ações voltadas para os automóveis ainda são predominantes.

Além da ciclovia na Ipiranga, que será construída como contrapartida pela rede de supermercados Zaffari e pelo shopping Praia de Belas, a ciclovia no bairro Restinga está praticamente concluída, segundo o diretor-presidente da Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari. Já está em elaboração pelos técnicos da EPTC o projeto de construção de uma ciclovia na avenida Sertório, cuja obra deve começar em 2012.

Outra ciclovia será construída na Edvaldo Pereira Paiva – a avenida Beira-Rio. A ideia da prefeitura com a obra é realizar uma integração dos espaços para ciclistas nas avenidas Diário de Notícias, Edvaldo Pereira Paiva e Ipiranga, o que vai resultar em 17,4 quilômetros de espaços para ciclistas. Estas obras fazem parte do Plano Diretor Cicloviário, que pretende implantar 40 quilômetros de ciclovias até a Copa do Mundo de 2014.

Cultura “carrocêntrica” ainda predomina

Apesar do avanço na construção das ciclovias, especialistas e cicloativistas de Porto Alegre alertam que a cultura do carro ainda é predominante – não só na capital gaúcha – e que a mudança será um processo demorado.

Para o arquiteto e urbanista Ricardo Corrêa, sócio fundador da consultoria TCUrbes e um dos coordenadores do projeto do Plano Diretor Cicloviário (PDC) de Porto Alegre, o trânsito só se tornará um lugar mais respeitável quando houver educação por parte de todos, sejam eles pedestres, ciclistas ou motoristas. “Uma cidade democrática é uma cidade que dá espaço para todos os meios de transporte, e para isso a educação é fundamental e tem que partir dos órgãos de fiscalização”, afirma.

Corrêa sustenta que no Código de Trânsito Brasileiro a prioridade é sempre o pedestre. Depois ciclistas, transportes de carga e descarga e, por fim, os carros de passeio. “As pessoas têm dificuldade em aceitar que as bicicletas também fazem parte do trânsito. É obrigação dos fiscais cuidarem dos ciclistas também, educando-os, explicando como devem andar na cidade”, defende.

Para o cientista político e consultor da ONG Cidade, Sérgio Bairele, enquanto a sociedade viver na lógica do carro, considerando este o principal veículo da pista, nada irá mudar. “O motorista hoje tem o pensamento de que é mais cidadão que os outros por estar no seu automóvel. Com isso, ele acha que está acima da lei e acaba desrespeitando os demais envolvidos no trânsito, como o pedestre e o ciclista”, avalia.

Transporte coletivo

A jornalista e cicloativista Lívia Araújo defende que as medidas restritivas à circulação de carros têm de ter como complemento a melhoria do transporte coletivo. “Acho que a cultura ‘carrocêntrica’ é mil vezes mais forte que a cultura que priorize a integração dos vários modais de transporte, para melhorar a mobilidade e reduzir a poluição. Infelizmente, em Porto Alegre é assim e não vejo a administração pública tomar alguma atitude para mudar isso”, afirma.

Por outro lado,  Lívia defende que o pensamento dos motoristas têm mudado. “Muitos motoristas estão respeitando mais, entendendo o compartilhamento e muito mais gente está andando de bicicleta no dia a dia. Isso tem a ver também com o aumento do número de ciclistas, e não com as medidas para incentivar o respeito a eles”, alerta Lívia. Ela defende mais campanhas de conscientização de motoristas e ciclistas, além de fiscalização e punição para as infrações que coloquem em risco a vida de quem pedala.

Estacionamentos públicos

Uma das maiores preocupações dos motoristas com as construções das ciclovias na cidade é em relação ao fim dos pontos de estacionamento nas margens das vias. “O carro privado está parado em um local público, que contemplará muitas pessoas e não só ele”, afirma Ricardo Corrêa. “Além disso, os pedestres, sendo prioridade, não podem perder o seu espaço na calçada, e se a ciclovia ocupasse o espaço das pistas, teria que diminuir a sua velocidade, o que aumentaria o fluxo dos carros”, completa.

O arquiteto questiona os projetos que prevêem a construção de estacionamentos públicos no centro da capital, além da proposta da prefeitura de ampliar os horários de estacionamento no Largo Glênio Peres, em detrimento de algumas feiras populares que ocorrem em frente ao Mercado Público. Mesma opinião tem a jornalista e cicloativista Lívia.

“Os estacionamentos, se forem implantados no centro da cidade, acaba se tornando um retrocesso do ponto de vista urbanístico moderno, que prega pela redução do tráfego de carros nas regiões centrais, procurando trazer de volta a convivência humana e reverter a deterioração dessas áreas”, diz Lívia.


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