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18 de setembro de 2011
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16:19

Patrimônio: Paço dos Açorianos comemora 110 anos com “A Samaritana”

Por
Sul 21
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Data do aniversário da Prefeitura é o da última nota paga pela construção do prédio l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Nubia Silveira (texto) Flavia Boni Licht (consultora)

No ano em que completa 110 anos, a serem comemorados na sexta-feira (23), o Paço dos Açorianos passará por obras de manutenção e terá novamente a escultura “A Samaritana”, que foi restaurada e será exibida no hall da Prefeitura. Também dará prosseguimento ao restauro, em parceria com o Programa Monumenta, da casa de número 973 da Rua Duque de Caxias, que sediará a Pinacoteca Ruben Berta. O arquiteto Edegar Bittencourt da Luz, responsável pelo restauro do Paço, realizado entre 2000 e 2003, coordenará os trabalhos de conservação de áreas danificadas pelo uso, como a fachada do prédio, as calçadas externas e os ladrilhos. As obras, ao custo de R$ 300 mil, devem estar concluídas num prazo de três meses, a contar da data do início, ainda não definida.

Fonte Talavera está com problemas hidráulicos l Foto: Ricardo Giusti/PMPA

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Voltado para o Sul, o Paço é um belo exemplar da arquitetura eclética l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Luiz Antônio Custódio, coordenador da Memória Cultural de Porto Alegre, explica que o Paço nunca foi inaugurado. A data de 23 de setembro foi escolhida como a do aniversário porque neste dia foram feitos os últimos pagamentos da construção, concluída em 1901. O prédio da Prefeitura porto-alegrense, projetado pelo arquiteto italiano João Antônio Carrara Colfosco, foi declarado patrimônio histórico do município em 1979, quando passou a denominar-se Paço dos Açorianos. Custódio diz que o tombamento se deu não apenas pela sua importância política: “Ele é um belo exemplar da arquitetura eclética, com elementos simbólicos do positivismo”. O arquiteto Bittencourt da Luz completa: “O Paço tem valor histórico, como sede do governo municipal, e arquitetônico, exibindo a influência cultural e social do início do século XX”.

O edifício, ressalta o coordenador da Memória, está voltado para o Sul, tem quatro fachadas e um largo fronteiro, como mandava a arquitetura lusa. Bittencourt da Luz recorda que o prédio foi construído em forma de U, com um pátio no centro, destinado a abrigar carruagens. Com o passar dos anos, o pátio desapareceu. No início do segundo milênio, durante as obras de reabilitação do local, foram realizadas pesquisas e descoberta a cor original da Prefeitura: o lírio escuro, com a qual foi pintada.

O arquiteto considera que o mais difícil nas obras de restauro total, pelas quais o prédio passou, foi “conciliar as novas redes, como a elétrica, com a tipologia do prédio, que permanece a mesma”.

Paço Municipal de Porto Alegre | Ivo Gonçalves/PMPA
Os excrementos dos pombos misturados à água viram um elemento corrosivo, que danifica fonte e prédio | Foto: Ivo Gonçalves/PMPA

Vandalismo e pombas, os principais riscos

A falta de manutenção, o vandalismo e os excrementos dos pombos misturados à água da chuva, que se transformam num elemento corrosivo, são os grandes riscos permanentes à estrutura do Paço. Bittencourt da Luz qualifica os pombos de praga e afirma que podem ser desenvolvidos elementos de proteção tanto do prédio quanto da Fonte Talavera, como fizeram na Biblioteca Pública, onde os pombos “não vão mais”. Este serviço, no entanto, não está previsto para as obras que devem começar ainda este mês. Neste momento, o arquiteto e sua equipe, estão recuperando a Talavera, fonte espanhola, com características árabes, que apresenta problemas, provocados por vândalos, e do sistema hidráulico. A conclusão está prevista para dentro de um mês, sendo que a fonte deverá funcionar as 24 horas do dia.

A Talavera está psssando por um novo restauro l Foto: Ricardo Giusti/PMPA

Presente da comunidade espanhola a Porto Alegre, por ocasião do centenário da Revolução Farroupilha, a Fonte Talavera ocupou o lugar antes destinado à Fonte Samaritana, do escultor Alfred Adlof, transferida para a Praça da Alfândega e lá depredada. A figura feita em bronze, em estilo clássico do século XIX, lembra a mulher a quem Jesus pediu água no Poço de Jacó, apesar da hostilidade existente entre judeus e samaritanos. Restaurada, a peça original ficará em exposição no hall da Prefeitura. Uma réplica, feita em alumínio pelo escultor Gutê, voltará a ocupar o seu antigo espaço na Praça da Alfândega.

A Talavera teve a bacia quebrada em 2005, durante uma manifestação popular, recorda Custódio. Ela foi enviada para a Espanha, mas os responsáveis pela restauração não conseguiram reproduzir o seu formato original, fazendo uma nova bacia, exibida atualmente na fonte. A original está no porão do Paço, recuperado durante a restauração do prédio, onde estão também os memoriais do Paço e da Cidadania.

Talavera exibe a influência árabe na Espanha l Foto: Ricardo Stricher/PMPA

A arquiteta Flavia Boni Licht destaca a escolha do Paço dos Açorianos pelo “Cidade Não Vista” da 8ª Bienal do Mercosul, que se realiza em Porto Alegre de 10 de setembro a 15 de novembro, “como um dos focos para estabelecer ‘um contato com a urbe a partir do tato, dos odores, dos sons, das palavras e de mínimas intervenções’”. Diz Flavia: “Sem discutir a qualidade daquela intervenção (do artista japonês Tatzu Nishi, que incorporou parte da Prefeitura para reproduzir um quarto), que dificilmente pode ser chamada de mínima, o andaime, que cobre parte considerável da imponente fachada, chama a atenção para o edifício que, neste mês, está completando 110 anos de muita vida. E talvez ajude a despertar, como afirmou o historiador de arte G.C.Argan, ‘a capacidade de compreender, na sua estrutura histórica, tanto o valor de uma memória, presença de seu passado, como uma previsão-projeto de futuro’”.

O japonês Tatsu Nishi usou a fachada da Prefeitura para completar a sua obra, integrante da 8ª Bienal do Mercosul l Foto: Bienal do Mercosul

A obra de Tatzu Nishi é descrita como “sensacional” pelo marchand Renato Rosa. Ele diz que os andaimes e os degraus, grudado “na fachada da Prefeitura velha” correspondem a “uns seis andares”. “À medida que tu sobes, diz ele, vais descortinando toda a pracinha em frente, a Praça Montevidéu, e mais ao longe a Praça XV, o Guaspari, o Mercado e, por fim, chega-se ao último andar”. Aí, segundo Renato, está a grande surpresa: “Subitamente, aparece um corredor que desemboca em algo, como se fosse um apartamento. Um quarto! Com cama e tudo! Só que acima da cabeceira dessa cama, ladeando-a, encontram-se dois imensos bustos — um do José Bonifácio e o outro do Marechal Deodoro da Fonseca, dois heróis nacionais. No meio da “parede”, um relógio, funcionando, redondo, normal, em que está escrito Casa Masson”. Renato alerta: “isso tudo, porém, faz parte da fachada real da Prefeitura!” E conclui: “Sensacional!”

Praça Montevidéu em frente à Intendência de Porto Alegre l Foto: Museu de Porto Alegre
Prédio da Prefeitura em 1920 l Foto: Museu de Porto Alegre
A Samaritana em seu espaço original, em frente à Prefeitura l Foto: Museu de Porto Alegre
A Samaritana foi restaurada. Uma cópia ficará na Praça da Alfândega l Foto: Museu de Porto Alegre
Prédio da Prefeitura recebeu o nome de Paço dos Açorianos em 1979 l Foto: Museu de Porto Alegre
Fonte Talavera foi um presente à cidade da colônia espanhola pelo centenário da Revolução Farroupilha, em 1935 l Foto: Museu de Porto Alegre
O prédio foi inicialmente concebido em forma de U l Foto: Museu de porto Alegre

Esculturas e pinacotecas

Construída entre 1898 e 1901, a sede da antiga Intendência de Porto Alegre apresenta uma pequena torre na fachada, as janelas em forma de arco e um grupo de esculturas com representação simbólica. No alto do prédio, no lado que dá para a Avenida Borges de Medeiros, a escultura central representa a Liberdade. A da direita, a Historia, e o busto de Péricles, a Democracia. A da esquerda, a Ciência. Na fachada próxima da Rua Uruguai, a figura central representa a Agricultura. A da direita, o Comércio. E a da esquerda, a Indústria. Há ainda duas figuras isoladas, representando a Justiça e a República. Na torre, ladeando o relógio, estão os bustos de José Bonifácio, à esquerda, e do Marechal Deodoro da Fonseca, à direita. No centro, abaixo do relógio, está o Brasão da República. O átrio de acesso conta com duas fileiras de colunas dóricas, uma continuidade das pilastras existentes no acesso principal. Uma escadaria leva ao último dos três pavimentos.

Pinacoteca Aldo Locatelli começou a ser montada no século XIX, quando a prefeitura se chamava Intendência l Foto: Prefeitura Municipal
Pinacoteca Aldo Locatelli começou a ser montada no século XIX, quando a prefeitura se chamava Intendência l Foto: Prefeitura Municipal

Quem visita a Prefeitura pode ainda admirar o acervo de duas pinacotecas: a Aldo Locatelli e a Ruben Berta, que será transferida para a rua Duque de Caxias, quando for concluído o restauro da casa. Flávio Krawczyk, responsável pelas pinacotecas, relembra que elas estiveram – por falta de espaço na Prefeitura – no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), de 1982 a 2008. Voltaram ao prédio da Prefeitura, quando foram concluídas as obras de climatização da sala de exposições e da reserva técnica.

A Aldo Locatteli, que recebeu o nome do pintor italiano radicado em Porto Alegre, em 1974, tem um acervo de mais de 900 obras, sendo a maior parte delas pinturas, desenhos e serigrafia. O Acervo começou a ser montado ainda no século XIX, durante o Império, na época em que as cidades eram administradas pelas Câmaras de Vereadores. Ela reúne obras de artistas nascidos em Porto Alegre, ou que atuaram ou passaram pela capital gaúcha. Flávio revela que uma boa parte do acervo – cerca de 400 obras – são pinturas emolduradas. A outra parte é constituída de esculturas e tapeçarias.

Pintura a óleo sobre madeira, intitulada Barra do Ribeiro, de Pedro Weingartner, datada de 1918, faz parte do acervo da Aldo Locatelli l Foto: Prefeitura Municipal

A Pinacoteca Aldo Locatelli poderá ainda aumentar o seu acervo por meio de compra ou de doações. Ao contrário dela, a Pinacoteca Ruben Berta é fechada, contando com 125 obras, doadas ao município em 1971, por João Calmon, então presidente dos Diários e Emissoras Associados. A Ruben Berta faz parte de um projeto do criador da empresa, Assis Chateaubriand, o Chatô, que também foi embaixador do Brasil na Inglaterra. A ideia dele era criar uma rede de museus regionais. O jornalista presenteou Porto Alegre com um dos museus, em 1967, em agradecimento ao presidente da Varig, Ruben Berta, que o ajudou nesta empreitada. Esse acervo permaneceu na antiga sede da TV Piratini e da Rádio Farroupilha, no Morro de Santa Tereza, hoje ocupada pela Fundação Cultural Piratini – TVE e Rádio FM Cultura, por quatro anos.

Cena Bíblica, óleo sobre tela, de Eliseu d"Angelo Visconti, pode ser admirada na Pinacoteca Ruben Berta l Foto: Prefeitura Municipal

O coordenador das pinacotecas diz que Chatô pensava em exibir apenas obras criadas a partir da Semana Modernista de 1922. Mas, isso não aconteceu por duas razões: ele próprio se deixou entusiasmar pelos artistas ingleses dos anos 60 e Pietro Maria Bardi, o artista italiano que fora responsável, juntamente com Chateaubriand, pela criação do MASP – Museu de Arte de São Paulo e o ajudou a montar os museus regionais, gostava “dos naifs, autodidatas, populares”, afirma Flávio. Assim, entre outros artistas, podem ser admirados na Ruben Berta Di Cavalcanti e Portinari – primeiros modernistas brasileiros –, Pedro Américo de Figueiredo e Melo, o italiano Eliseu D’Angelo Visconti e os ingleses Michael Buhler e Allen Jones. Em Porto Alegre, antes de o acervo ser doado ao município, o museu foi dirigido pelo artista Ângelo Guido, que incorporou à Ruben Berta, entre outras, obras suas e de Zorávia Bettiol.

Ainda faltam trabalhos

Flávio reconhece que há algumas lacunas na Aldo Locatelli. “Há falta, por exemplo, de mais obras de Aldo Locatelli – só temos um desenho –, de Ado Malagoli, de quem não temos nenhuma, e dos artistas que usaram a fotografia em seus trabalhos”, afirma. O coordenador, no entanto, ressalta que apesar das lacunas, a Pinacoteca Aldo Locatelli possui “o maior acervo museológico de arte de Porto Alegre e do mundo”.

Na Aldo Locatelli está a pintura a óleo sobre madeira, Docas - Barcos de Navegantes, de Luiz Maristany de Trias l Foto: Prefeitura Municipal

Os trabalhos, segundo Flávio, estão bem preservados. As pinacotecas contam com recursos do Funpac – Fundo do Patrimônio Histórico e Cultural, do qual recebem, desde os anos 80, R$ 40 mil anuais, e do Funcultura – Fundo Pró-Cultura. Flávio não sabe precisar quanto é investido pelo Funcultura. Mas, diz que as verbas do Funpac são suficientes para preservar e restaurar as obras. “As condições são muito boas. Atualmente, estamos restaurando 70 obras dos dois acervos”, afirma. As do Funcultura se destinam ao material promocional.

As pinacotecas podem ser visitadas no horário de funcionamento do Paço: das 8h30 às 12h e das 13h30 às 18h, de segundas a sextas.

Casa Boni, no início dos anos 20 l Foto: Arquivo Pessoal

Uma casa construída com muito carinho

O engenheiro italiano Armando Boni foi o introdutor do concreto armado no Rio Grande do Sul. A arquiteta Gicelda Weber Silveira, que fez uma dissertação de mestrado sobre ele e uma de suas obras – o Cemitério São Miguel e Almas –, afirma que Boni foi um grande calculista. Um exemplo desta sua capacidade é o cálculo e a execução da Concha Acústica do antigo Auditório Araújo Vianna. O engenheiro, que nasceu em Castelfranco, na região da Emília-Romanha, na Itália, em 1886, estudou nas universidades italianas de Bolonha e Parma e chegou a Porto Alegre em 1910. Voltou à sua terra de origem para casar-se e para cá retornou em 1913 com sua esposa Giuditta Lupi Boni. Teve cinco filhos, desenvolveu inúmeros projetos arquitetônicos e lecionou na então Escola de Engenharia de Porto Alegre.

Giuditta e Armando tiveram cinco filhos l Foto: Arquivo pessoal

O filho mais moço de Boni, Benito, conta que o engenheiro “iniciou suas atividades profissionais, abrindo escritório nos altos do Mercado Municipal, como sócio de Hugo Ferlini”. Diz que foi, talvez, “desta época a construção da primeira viga de concreto armado de grande vão do Brasil, na obra da Cia. Fiat Lux, de Porto Alegre”.

Gicelda afirma que Boni foi um projetista eclético, que, em suas obras, utilizava elementos da arquitetura italiana de sua época. Além de projetar residências, como as das família Meneghetti (atual Palacinho), Corbetta e Sanchez, projetou as sedes da Livraria do Globo, do Grêmio Náutico Tamandaré e do Club Canottieri Duca Degli Abruzzi, o prédio do Banco Francês e Italiano e as usinas de Caxias do Sul, Antônio Prado e Garibaldi. Mas, de todos os seus projetos, o que fez com mais carinho foi o da casa da Rua Marquês do Pombal, 1111, onde viveu com a mulher, os cinco filhos, a sogra, a cunhada, dois tios e duas netas. “Nas refeições – lembra Amarilli Boni Licht – havia sempre de 12 a 13 pessoas à mesa. E a casa sempre foi o centro de nossas festas, de reuniões da família e de amigos. Sempre foi um lugar de muita alegria”.

Concha Acústica do antigo Auditório Araújo Vianna, projetada por Boni l Foto: Museu de Porto Alegre

Amarilli foi a quarta filha do casal e a primeira a nascer na casa projetada pelo pai. A família se mudara para o novo endereço no Natal de 1922. Ela nasceu em janeiro de 1923. Os filhos mais velhos eram, Danilo, Claudia e Oliviero. Depois, veio Benito, que também nasceu na Casa Boni e que, assim como Oliviero, seguiu a profissão do pai que, ao chegar a Porto Alegre, começou a lecionar a disciplina de concreto armado na Faculdade de Engenharia. E Benito até hoje se pergunta como seriam aquelas aulas. “Em italiano? Com intérprete?”

“Alguns anos depois”, segue contando Benito, “meu pai abandonou o magistério para dedicar-se ao projeto e execução de grandes reservatórios em concreto armado bem como de artefatos em argamassa armada (bancos de praças, tanques, reservatórios, fossas sépticas, cercas). Também nessa área foi um pioneiro tendo organizado e dirigido, por mais de vinte anos, uma indústria de elementos pré-moldados, onde desenvolveu também pesquisas na área da química, chegando a patentear impermeabilizantes de argamassa e vernizes, e a criar e a construir aparelhos para controle e tratamento de água”.
A Casa Boni foi reconhecida nas fotos da semana passada — como não poderia deixar de ser — pelos integrantes da família: Silvana, Adriana Acauan Tandler e Marisa Boni Ruschel, e também por Gládis Teresinha Licht.

Casa Boni hoje: sede do Instituto NT l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

A Casa Boni, hoje sede do Instituto NT, foi tombada pelo município em 2001, como um exemplo das residências burguesas de Porto Alegre, no início do século XX, com arquitetura de influência modernista. Apesar de ser o pioneiro no uso do concreto armado, Boni não fez uso dele em sua casa. Optou por paredes portantes, entrepiso com vigamento de madeira e estuque. Também utilizou elementos pré-fabricados de concreto nos muros. A fachada conta com vários ornamentos.

Lembranças da infância

Amarilli lembra que a infância na Casa Boni foi maravilhosa. “Quando decidiu construir a casa, meu pai ficou entre o Morro Ricaldone e a Marquês do Pombal. Decidiu-se – não sei por quê – por aqui e começou a construir a casa com todo o amor”, recorda a filha do engenheiro. “Quando concluiu a casa, ele contratou uma floricultura para fazer o jardim”, revela Amarilli. “Depois, comprou uma área ao lado da casa e ali construiu uma pérgola”, conclui. Benito lembra que o terreno foi comprado em 1914.

Boni pensou nos mínimos detalhes da casa l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Do que a filha de Boni lembra com mais saudade é de um plátano imenso que havia no pátio e em que ela e os irmãos subiam. O plátano não existe mais. Foi cortado porque estava oco e poderia cair. Outra boa recordação é a cortina da sala em seda pura azul, vinda da Itália. Boni contratou um pintor para reproduzir nas paredes da sala o desenho, a textura e a cor da cortina. “Muita gente achava que era tecido. Mas, era pintura”, diz Amarili.

“Quando concluída a sala, começaram a mobiliar. Minha mãe gostava de ir a leilões, comprar os móveis”, afirma Amarilli. Ela também revela que a decisão de vender a casa foi difícil. E isso só aconteceu após o falecimento de Giuditta, aos 109 anos, em 1998. Armando falecera em 1946, aos 59 anos. “Pior foi ter de retirar tudo lá de dentro. Aí foi doloroso”, lembra-se. Entre os objetos que herdou estão as toalhas de linho bordadas a mão que ela conserva bem guardadas.

Prédio hoje é sede de cursos, palestras, workshops e cinema l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Ponto de Cultura

Beto Turquenitch, que adquiriu a Casa Boni e a transformou no Instituto NT de Cinema e Cultura, um local de palestras, cursos, exposições, workshops, exibição de filmes e de encontros para um bom bate-papo, afirma que é um privilégio ter o Instituto num bem tombado. “É um privilégio conviver com algo que tem alma e história”, ressalta. Ele, no entanto, tem uma queixa: há dificuldades em conseguir apoio para eventos culturais. “Buscamos patrocínio, não filantropia. Os empresários precisam entender que podem ganhar dinheiro investindo em cultura”, afirma.

O teto da sala exibe belas pinturas l Foto: Ramiro Furquim/Sul21

O cinema, mantido pelo Instituto na Casa Boni, tem “o astral do Cinema Paradiso”, diz Beto. Segundo ele, o Instituto não foi criado para concorrer com os demais espaços. É um local alternativo – “não é fast food” –, onde se realizam eventos que podem reunir, num dia, mais de mil pessoas, ou outros que atraem de 400 a 500 pessoas. Ele não tem ideia do tamanho do público que já passou por lá. “O espaço está em fase de consolidação”, reconhece. “Não queremos ser um espaço único. Queremos somar, acrescentar ao que já existe na cidade”.

Endereços

Prefeitura de Porto Alegre – Praça Montevidéo, 10 – Centro Histórico da capital gaúcha
Fone: 51 3286-1066
Horário de Funcionamento: das 8h30min às 12h e das 13h30 às 18h, de segundas a sextas

— Casa Boni – Instituto NTde Cinema e Cultura – Rua Marquês do Pombal, 1111 – Bairro Auxiliadora
Fone: 51. 3361 3111
Horário de Funcionamento: manhã, tarde e noite

De onde são?

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Ramiro Furquim/Sul21
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