Colunas>Montserrat Martins
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9 de setembro de 2011
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11:10

Mobilização popular

Por
Sul 21
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Fiquei impressionado com um desabafo do meu sobrinho de 12 anos, falando com meu filho de 16 anos, meses atrás, de que “a minha geração é uma droga, sabe que as coisas estão erradas mas não faz nada pra mudar”. Lembrei disso agora, vendo a marcha contra a corrupção deste 7 de setembro como um sinal de que a acomodação da juventude não é completa, pelo menos. Vale a pena acompanhar para ver os rumos que tomará esse movimento, que tem de original a proposta de não representar partidos ou sindicatos, mas sim uma forma de pressão da “sociedade civil” contra a má prática política – como a dos parlamentares que nada fizeram no caso Roriz, mesmo com todas as evidências documentadas.

Há muitas formas de interpretar os mesmos fatos, o partido do governo por exemplo (em sua convenção nacional) questionou o papel da grande mídia, vendo na série de denúncias de corrupção uma forma de municiar a oposição. Nessa ótica de que tudo se resume ao confronto partidário, outra forma de questionamento seria a do papel da mesma mídia em governos anteriores (o que a população ficou sabendo do PROER, por exemplo, que destinou verbas públicas para o ‘socorro’ a bancos privados?). O poder de informação traz consigo uma grande responsabilidade social, na qual é mais grave a omissão de informações sobre os casos de corrupção, em governos passados, do que a ênfase de que se “acusa” a imprensa agora. De modo análogo ao trabalho da Polícia Federal, como no argumento já empregado (que tem lógica e coerência) de que estaria sendo mais eficiente agora do que em governos anteriores.

Outra questão a ser discutida é se estamos debatendo os casos mais graves de desvio do dinheiro público, ou estamos a reboque de um “sensacionalismo” que esconde os verdadeiros escândalos. Fiquei surpreso quando soube – sem que isso tenha sido manchete em qualquer jornal ou site – que Eike Batista também estava inscrito para receber financiamentos de mais de 3 bilhões de reais junto ao BNDES. A notícia de tal tipo de financiamento solicitado pelo Pão de Açúcar, este ano, impediu a concretização da compra do Carrefour, pela rejeição da opinão pública ao uso das verbas do BNDES para este fim. Mas sobre pedido semelhante feito pelas empresas de Eike não se ouviu falar na imprensa, a não ser em matérias discretas de setoristas econômicos. Porque critérios, mesmo, as manchetes são ocupadas às vezes por denúncias de mau uso ou desvio de milhares de reais, mas se omitem de informar negociatas de bilhões de reais ? Essa é uma questão de fundo, que se espera que possa vir à tona com o seguimento de uma mobilização popular contra a corrupção. Ao invés da proposta política de criticar para inibir o “denuncismo”, parece mais coerente – para as forças políticas que chegaram ao governo pregando a participação popular – aprofundar o debate com mais informações, dando mais visibilidade a grandes questões nessa área (como algumas que exemplificamos acima), ainda pouco conhecidas do grande público. Se a população – e os jovens em especial – estão dispostos a se mobilizar, a evolução social requer aprofundar esse debate, ao invés de negá-lo.


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