Geral
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20 de setembro de 2011
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16:14

Gaúchos e gauchismos

Por
Sul 21
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A imagem “típica” do gaúcho é muito difundida pela mídia e utilizada na política no Rio Grande do Sul. Todos os povos necessitam de mitos e de heróis, assim como de referências culturais. É assim em todo o mundo e em todas as partes do Brasil. Isto vale também para o Rio Grande do Sul. Em todos os lugares, no entanto, os mitos e os heróis são construídos a posteriori, pelos que os reverenciam e para servir aos seus propósitos.

Leia Mais:
— “Os gaúchos e os outros”, uma análise de Luis Augusto Farinatti
— Hegemonia gauchesca

Não se discute aqui a existência do gaúcho, seus trajes, linguajar e lides. Discute-se os usos que se fazem de sua imagem. Se é saudável a criação de referências e a identificação dos que se reconhecem compartilhando as mesmas crenças e tradições é, em contrapartida, extremamente preocupante e daninho o processo de exclusão dos que não as compartilham e, por este motivo, são considerados diferentes. Se formos os “melhores”, os outros, todos, serão piores!

A exploração midiática e política deste processo é perigosa. Ao mesmo tempo em que une, ela aparta. Somos “nós” e os “outros”. O grande problema é que “nós” somos os “outros” dos “outros”. Criam-se, assim, inimigos potenciais. A “honra gaúcha” tem que se contrapor à “honra paulista”, à “honra mineira” ou, até mesmo, à “honra brasileira” para se afirmar e para ter significado. Se não for assim, ela não existe. E, o que é pior, para que a honra de um exista é preciso diminuir ou eliminar a do outro ou, até mesmo, no limite, eliminar o “outro”.

Esta é a lógica dos preconceitos e das guerras. Esta também é a lógica simples dos povos isolados. Todos os povos ditos “primitivos” se reconhecem e se afirmam se autodenominando o “povo eleito”, o “povo verdadeiro” ou, ainda, os “homens de verdade”, já que todos os demais são considerados “meio bichos”.

É preciso, sim, reconhecer nossas façanhas, mas sem desmerecer a dos demais. É preciso reconhecer nossas façanhas e, ao mesmo tempo, nossos problemas e limites para poder crescer, avançar.

Que este 20 de Setembro seja de reflexão, não de afirmação pura e simples de um bairrismo tosco. Um bairrismo que melhor serve aos interesses comerciais e políticos de alguns do que aos interesses da maioria.


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