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3 de setembro de 2011
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19:47

Expointer 2011 eleva a autoestima da agricultura familiar gaúcha

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Sul 21
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Expointer 2011 eleva a autoestima da agricultura familiar gaúcha
Expointer 2011 eleva a autoestima da agricultura familiar gaúcha
Abertura do pavilhão da agricultura familiar | Foto: Caroline Bicocchi/Palácio Piratini

Geraldo Hasse
Especial para o Sul21

A primeira Expointer do governo Tarso Genro chega ao fim neste domingo (4) tendo como protagonista central a agricultura familiar, cuja autoestima nunca esteve tão elevada. Isso ficou comprovado ao longo da semana, quando o pavilhão da agricultura familiar foi de longe o mais frequentado da 34ª Exposição-Feira Internacional de Animais e Máquinas. Tanto que na quinta-feira ficou decidido ampliar-se a área do segmento familiar em 2012. “A cada Expointer o nosso espaço será maior”, afirmou o secretário Ivar Pavan (PT), do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo. Ele prometeu também um espaço para os produtos orgânicos na próxima feira.

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Outra evidência do sucesso da agricultura familiar aconteceu na sexta-feira, durante a visita da presidenta Dilma. No discurso como presidente da Confederação Nacional da Agricultura, a senador Kátia Abreu (PP) levantou a bola do agronegócio, elogiando os ex-presidentes José Sarney (PMDB), Fernando Collor (PTB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). “Mas não teve coragem de atacar a agricultura familiar”, disse Lino de David, presidente da Emater-RS, durante a audiência pública da Assembléia Legislativa sobre o I Plano Safra Estadual, voltado para a agricultura familiar. “Já não pega bem falar mal da agricultura familiar”, arrematou. Mesmo em crise, a Emater-RS emprestou uma centena de funcionários para o início da secretaria de Pavan, criada este ano.

Enquanto a audiência pública realizada ao anoitecer de sexta-feira na “sede campeira” da Assembleia mobilizava pequeno número de deputados, técnicos agrícolas, agrônomos e agricultores, o pavilhão da agricultura familiar parecia uma colmeia em final de expediente. Percorrendo os 176 estandes, onde se expõem os produtos de 208 expositores, a senadora Ana Amélia Lemos (PP) apertava mãos, trocava beijinhos e posava sorridente para fotos com consumidoras felizes, num raro congraçamento da elite política com as bases da pequena agricultura gaúcha.

Oito da noite fria de sexta, o happy hour foi animadíssimo na sede da Associação do Gado Holandês, raça que garante a maior parte da produção de leite do Rio Grande do Sul e do Brasil. No coquetel regado a refri, cerveja e batida de morango, predominavam os agricultores de pequeno porte e os peões de tambos. E a taça de campeão, o troféu mais rico e o maior prêmio em dinheiro (R$ 8.850 reais) foram para a Granja Tang, uma típica propriedade familiar, baseada em Farroupilha. A festa terminou com a apresentação de uma dupla caipira de Glorinha.

Dona de 14 hectares, a família Tang apresentou 14 animais na Expointer, onde se apresentou pela primeira vez em 2004. Todos os bichos ganharam medalhas do juiz canadense. Uma vaca de seis anos foi a campeã de produção com 72 litros/dia em três ordenhas. “Ela já produziu 80 litros/dia mas a viagem, a mudança do ambiente e da comida atrapalharam”, explicou Itamar Tang, 43 anos, que toca o tambo ao lado do pai Orlando e de dois empregados; o irmão Marcos, de 41 anos, médico em Porto Alegre, dá uma força nos fins-de-semana.

O sítio está encravado em morros a 15 quilômetros de Farroupilha e a 10 quilômetros de Carlos Barbosa, onde fica a centenária Cooperativa Santa Clara (4300 associados), compradora dos 1700 litros de leite produzidos diariamente pelas 43 vacas dos Tang. Pura agricultura familiar tocada com profissionalismo, a granja não tem horizonte de expansão porque o entorno está ocupado por indústrias ou por chácaras de lazer. “O preço da terra está lá em cima”, explica Itamar Tang.

Apesar de cercado por uma vizinhança rica, o negócio da família nunca esteve tão bem. Enquanto a receita do leite sustenta a propriedade, o lucro sai da venda de matrizes. Nos próximos meses, será iniciada a venda de embriões das vacas premiadas. Para Itamar, tudo indica que o negócio continuará bom nos próximos quatro ou cinco anos, pois a produção leiteira do Rio Grande do Sul só preenche 60% da capacidade da indústria instalada no estado. “Enquanto os lacticínios continuarem brigando pela nossa produção, vamos estar bem”, diz ele. O preço médio do leite gira em torno de R$ 0,75 por litro, com oscilações para cima ou para baixo, de acordo com a qualidade.

Nos últimos anos, o Rio Grande do Sul firmou-se como o Estado com o maior crescimento do rendimento do rebanho leiteiro e da produção de leite, a ponto de se difundir a tese de que aqui poderia constituir-se um dos maiores polos mundiais de lácteos para exportação. Para chegar lá, só faltaria aumentar a produção. E a qualidade, ainda insatisfatória.

Num debate realizado no final de agosto em Porto Alegre, o secretário Ivar Pavan reconheceu que cerca de 60% dos produtores gaúchos de leite não atenderiam as exigências de sanidade dos órgãos oficiais. Não por acaso o leite encabeça a lista dos 16 programas do Plano Safra Gaúcho válido para o período junho 2011/julho 2012. O mais abrangente de todos, o Programa Leite Gaúcho, visa 7500 famílias para as quais os Tang podem servir como exemplo.

Trator de Não-Me-Toque

No âmbito da agricultura empresarial, uma das maiores novidades da 34ª Expointer foi o lançamento dos tratores Stara e o anúncio da parceria dessa cinqüentenária indústria de implementos agrícolas de Não-Me-Toque com a fábrica argentina de tratores Pauny, de Las Varillas, Província de Córdoba. As duas vão intercambiar tecnologia de máquinas agrícolas para manter – nos dois países – linhas de produção de tratores de grande porte e implementos agrícolas.

Resposta binacional ao travamento do comércio de máquinas e veículos na fronteira argentino-brasileira desde o início de 2011, o investimento começa este ano com US$ 50 milhões; quando todo o projeto estiver concluído, dentro de cinco anos, o total investido deverá alcançar US$ 200 milhões, parte financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Segundo o agrônomo Ricardo Dellamea, responsável pela exportação na Stara, trata-se de um casamento tecnológico e comercial que não envolve controle de capital de uma parte sobre a outra – pelo menos por enquanto. “A decisão é muito recente”, diz ele, que atuou nos bastidores do negócio. A Pauny, antes chamada Zanello, tem 500 empregados.

Fundada em 1960 pela família Stapelbroek, de origem holandesa, a Stara tem 1700 empregados e deve fechar este ano com um faturamento acima de R$ 500 milhões. Seu principal produto é o pulverizador autopropelido, que sai da fábrica à média de dois por dia, favorecido pelo fato de o Brasil ter se tornado o maior consumidor mundial de agroquímicos.

Com a nova linha de tratores, a Stara deverá contratar mais 500 pessoas. Enquanto não houver fabricação de tratores em Não-Me-Toque, a empresa vai continuar importando o produto argentino pronto; mais adiante, importará componentes-chave como a transmissão para a montagem local dos tratores, equipados com motores Cummings, bombas Bosch e peças de indústrias fornecedoras diversas, de acordo com o padrão da indústria montadora de veículos.

Roger Baumgratz, responsável pelo marketing da Stara, argumenta que a opção por tratores de grande porte está ajustado ao perfil dos implementos produzidos pela indústria de Não-Me-Toque. “Um 75 não toca um Gladiador”, diz ele, referindo-se ao maior pulverizador da Stara, que precisa de um trator de pelo menos 150 cavalos.

Na prática, isso significa que a Stara estréia no mercado de tratores disposta a brigar diretamente com a John Deere, maior fabricante mundial; e a Case-New Holland, a segunda maior potência do ramo. Para que não pairem dúvidas sobre a disposição de luta, a Stara peitou um estande de 2800 metros quadrados em quatro esquinas do setor de setor máquinas da Expointer. Uma ousadia maior do que o estande da líder John Deere, que acaba de demitir uma centena de funcionários em Horizontina por causa do “problema com a Argentina”.

Formigão

A New Holland, que disputa com a John Deere e a Agco a liderança do mercado brasileiro de tratores agrícolas, apresentou na Expointer uma máquina de 600 cavalos equipada para colher eucalipto, picar as toras e transbordar os cavacos para outro veículo de carga operando em linha. Originalmente fabricado nos EUA, esse gigantesco modelo de trator florestal é uma aposta na expansão do cultivo de eucalipto para biomassa. Será testado no oeste paulista em parceria com a Unesp de Botucatu.

A hipótese da New Holland, baseada em previsões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), é que até 2020 se desenvolva no Brasil o plantio de um milhão de hectares de eucalipto adensado – 7000 árvores por hectare, em vez da média de 1500 árvores/ha, normalmente usada para a produção de madeira para celulose e outros fins. Atualmente, segundo a Associação Brasileira de Florestas Plantadas, o Brasil possui 4,7 milhões de hectares de eucalipto, cuja produção se destina a atender principalmente 25 grandes empresas industriais.


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