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5 de setembro de 2011
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16:47

“Ciclovia da Restinga está mais para calçadovia”, critica vereador

Por
Sul 21
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André Carvalho

A prefeitura de Porto Alegre apresentou nesta segunda-feira (5) o projeto executivo da ciclovia na avenida Ipiranga, que será construída pelo grupo Zaffari e terá 9,4 quilômetros de extensão. O Plano Diretor Cicloviário prevê um potencial de 495 quilômetros de ciclovias em Porto Alegre. No entanto, os 4,6 quilômetros de caminhos para bicicletas no bairro Restinga, que deveriam ter ficado prontos em junho, apresentam uma série de problemas. “Está mais para uma ‘calçadovia'”, critica o vereador Mauro Pinheiro (PT).

Cerca de três quilômetros da ciclovia da Restinga estão sobre a calçada. "Aquilo lá nunca deveria se chamar de ciclovia, está mais para uma ‘calçadovia’”, diz Mauro Pinheiro | Foto: Divulgação/Gabinete Mauro Pinheiro

Orçada em R$ 1,5 milhão, a ciclovia da Restinga está 90% pronta, segundo a prefeitura. No final de agosto, Mauro Pinheiro percorreu toda a extensão da obra e verificou problemas. “Aquilo lá nunca deveria se chamar de ciclovia, está mais para uma ‘calçadovia’”, afirma o vereador. Segundo ele, mais de três quilômetros da pista estão em cima de estreitas e defeituosas calçadas da avenida João Antônio da Silveira, obrigando os pedestres a dividirem o espaço com os ciclistas ou, na pior das hipóteses, caminharem pela via.  “A ciclovia passa no meio de uma parada de ônibus e por vários postes de luz, aumentando a lista dos problemas”, aponta Mauro Pinheiro.

Embasado na legislação, Pinheiro argumenta que o artigo 8º da lei complementar nº 626, do Plano Diretor Cicloviário de Porto Alegre, prevê a ciclovia como uma faixa exclusiva às bicicletas separada da área destinada a pedestres e tráfego motorizado.  Além disso, ele destaca que de acordo com o decreto municipal nº 14.970, assinado pelo ex-prefeito José Fogaça, está vedado qualquer tipo de obstáculo nas calçadas destinadas a pedestres.

"A pista já é estreita e a colocação de uma ciclovia a estreitaria ainda mais”, justifica Capellari | Foto: Ricardo Giusti/PMPA

Para Mauro Pinheiro, o problema da ciclovia da Restinga não tem a ver apenas com as falhas no trajeto, mas com o alto custo para uma obra que ficou sem qualidade. “O problema não está apenas nas irregularidades. O valor orçado para a sua construção não faz jus à sua existência. É um absurdo”, diz o vereador, que na semana passada pediu ao Ministério Público do Estado que abrisse um inquérito para investigar as irregularidades.

O diretor-presidente da Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC), Vanderlei Capellari, explica que o fato de a ciclovia passar por trechos em cima das calçadas ocorre pela falta de condições de construir o percurso na avenida. “A pista já é estreita e a colocação de uma ciclovia a estreitaria ainda mais”, justifica. “Em alguns pontos da ciclovia deverá existir um bom relacionamento entre ciclistas e pedestres para que todos possam utilizar do mesmo espaço tranquilamente”, afirma.

Sobre os postes, Capellari admite não ter o que fazer a respeito, apesar de que, segundo ele, isso já estava previsto no projeto inicial. “Estamos construindo uma ciclovia e não uma pista de corrida. Não creio que os postes sejam um complicador para os usuários de bicicletas”, defende. Em relação à parada de ônibus, o diretor-presidente da EPTC garante que ela será transferida para um ponto em que a calçada seja mais larga e não atrapalhe o trafego dos ciclistas.

A opinião de um ciclista

O ciclista Artur Elias Carneiro usou um sábado para conhecer a ciclovia da Restinga. “Na verdade é uma ciclofaixa protegida, um híbrido de ciclofaixa e ciclovia”, argumenta. Para ele, apesar das irregularidades, a sinalização é boa. “Há o desenho de bicicleta no chão, indicando que ali é um espaço para ciclistas. Além disso, existem placas de parada obrigatória para o ciclista em todos os cruzamentos , que sempre são os pontos perigosos de toda ciclovia ou ciclofaixa”, afirma.

Ciclovia da Restinga tem postes de energia no meio do caminho. "Não creio que os postes sejam um complicador para os usuários de bicicletas", diz Capellari | Foto: Divulgação/Gabinete Mauro Pinheiro

Entretanto, Artur demonstra o seu descontentamento em relação ao fato de ter que dividir a ciclovia com os pedestres em trechos em que a pista não ocupa a calçada. “Existem amplas calçadas em ambos os lados da avenida, então não há justificativa prática para esse comportamento. É questão de educação e cidadania”, aponta.

A ciclovia, ou ciclofaixa, “poderia claramente ser mais ‘generosa’, mas não é inútil e nem mais perigosa do que se não a houvesse”. Ele aponta que o fato de existir postes no meio da pista não foi algo que lhe chamou a atenção. Porém, o ciclista afirma que o maior perigo está mesmo na grande presença de pedestres. “Por vezes, o número excessivo de transeuntes obriga o ciclista a sair da ciclofaixa, o que não deveria acontecer”, conclui.


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