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25 de setembro de 2011
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03:06

Casa de Cultura Mario Quintana: fora de forma mas de alma nova aos 21

Por
Sul 21
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O diretor da CCMQ, Paulo Wayne |Ramiro Furquim/Sul21

Milton Ribeiro

A atual Casa de Cultura Mario Quintana era originalmente um hotel de luxo, o Majestic, que foi por anos lar do poeta que lhe dá o nome. Hoje, pertence ao Estado do Rio Grande do Sul e está tombado pelo patrimônio histórico. Constituído por dois blocos ligados por passarelas com terraços e sacadas, o ex-hotel teve seu auge na primeira metade do século XX. Recebeu como hóspedes todas as grandes figuras da época, como Presidentes da República e artistas como Vicente Celestino, Virginia Lane e Francisco Alves. Sua construção iniciou em 1916, sendo finalizado apenas em 1933.

Como Casa de Cultura, é sede de vários espaços culturais. Lá estão a Biblioteca Lucília Minssen, parte do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, a Discoteca Pública Natho Henn, as Galerias Xico Stockinger e Sotéro Cosme, os teatros Bruno Kiefer e Carlos Carvalho, mais três salas de cinema, cafés, bombonière, livraria, assim como inúmeras salas com destinações específicas e outras de uso múltiplo.

Nesta semana, de 20 a 25 de setembro, a Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) ofereceu uma programação especial para comemorar seus 21 anos. O evento encerra-se hoje (25), data do aniversário da Casa, com um inusitado show de Jorge Furtado e Antonio Carlos Falcão cantando Chico Buarque no Teatro Carlos Carvalho.

Na verdade, os tapumes estão lá apenas para proteger os passantes de possíveis quedas de reboco | Ramiro Furquim/Sul21

O Sul21 conversou com o atual diretor da CCMQ, Paulo Wayne, o qual fez questão de ressaltar que todos os novos projetos e melhorias da Casa foram encaminhados pelo ator e ex-diretor da Casa Marcos Barreto, o qual geriu a instituição entre janeiro e agosto, quando faleceu subitamente, vítima de um ataque cardíaco. “É uma questão de justiça e gratidão”, ressalta Paulo.

A nova gestão recebeu a CCMQ no mês de janeiro em situação precária. Com 12.000 m², o antigo edifício requereria constantes cuidados, mas não foi o que aconteceu nas administrações anteriores. O que eram pequenos problemas há cinco ou dez anos, hoje se acentuaram, transformando-se, por enquanto, em grandes orçamentos para reformas. Faz anos que há tapumes em torno do prédio. Parecem ser de uma obra, mas na verdade eles estão lá apenas para proteger os passantes de possíveis quedas de reboco. Hoje, o próprio tapume oferece perigo às pessoas. Então, a proteção está sendo trocada por outra que irá também servir para o restauro da fachada e das aberturas.

Paulo Wayne, atual diretor da CCMQ, chegou em janeiro como assessor de Marcos Barreto com a função de formatar os projetos culturais da casa. Ele fala sobre os problemas estruturais do prédio: “A última reforma do prédio ocorreu durante o governo Olivio Dutra. Desde lá ficou sem investimentos. Quando chegamos aqui, não tínhamos disponíveis informações nem sobre as funções dos disjuntores… Pior: a comunidade perdera a referência da CCMQ como local onde acontecem atividades artísticas. Também a comunidade cultural estava afastada”.

Grupo de teatral ensaiando na CCMQ

Não obstante as dificuldades materiais, a CCMQ está experimentando um ressurgimento que justifica a festa pela maioridade. Através de ações simples como a liberação gratuita de salas para ensaios em troca de apresentações, ou como a reserva de 20% de datas para grupos do interior, a circulação de pessoas dobrou de 2 para 4 mil ao mês. Os dois teatros, o Bruno Kiefer e o Carlos Carvalho, são administrados pela Casa, tendo seus espetáculos selecionados por editais públicos, porém “a CCMQ funciona como um grande condomínio. A Cinemateca tem seus próprios gestores, assim como a Discoteca Natho Henn, a Biblioteca Lucília Minssen e o MAC, Museu de Arte Contemporânea e outros institutos. Somos novamente um hotel”, brinca Wayne. “A loja também dobrou seu faturamento. Só com estas medidas, retomando a relação com o meio artístico, dobramos a visitação. Ou seja, a alma está sendo revigorada à espera do corpo”.

Wayne afirma que ideias simples e baratas como a internet por wifi, a qual custou apenas R$ 360,00, também contribuíram para o início da revitalização da CCMQ.

Além da fachada, há problemas com infiltrações, instalações elétricas insuficientes, falta de sinalização adequada e, principalmente, desrespeito às normas de acessibilidade. Há um projeto em curso chamado Casa para Todos que tem a finalidade de readequar a casa. “Nunca iremos zerar as pendências, até porque queremos que a CCMQ seja um organismo vivo, não somente um monumento”.

Nesta segunda-feira (26), será inaugurada a sala Marcos Barreto, uma sala de ensaios. Para atores como o ex-diretor. Assim, aos trancos mas otimista, a CCMQ chega à maioridade.


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