Geral
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10 de agosto de 2011
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10:00

Uma nova eclosão jovem

Por
Sul 21
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Mais de 680 detidos apenas em Londres e um número ainda não contabilizado em outras cidades do Reino Unido, 16 mil policiais nas ruas da capital até as últimas horas da noite desta terça-feira (9) e a violência não apresenta sinais de esmorecer. Pelo contrário, se alastra.  Já atinge Nottingham, Birmingham, a região de West Midlands, Wolverhampton, Bristol, West Bromwich e Liverpool.

Ainda que as autoridades insistam em afirmar que se trata de ações criminosas que se propagam como imitação de atos de protesto pela morte de um jovem de 26 anos em Croydon, zona sul de Londres, fica claro que as causas dos incidentes são maiores e mais profundas do que o fato que os deflagrou.

Tal como os jovens do movimento 15M em Madrid, da Primavera Árabe, das manifestações em Israel, das jornadas em Portugal e na Grécia e das greves e passeatas estudantis no Chile, os jovens pobres e imigrantes ingleses saem agora às ruas e expressam sua revolta. Os movimentos de protesto e insatisfação se espalham pelo mundo. Em meio à crise econômica, as manifestações jovens prenunciam o fim de uma era e de um modelo sócio-econômico e cultural.

A insanidade neoliberal, com o descontrole dos mercados e a imobilização dos governos, concentrou riquezas, acentuou diferenças sociais e forçou a retração do Estado de Bem Estar Social, semeando, mais uma vez, a revolta. O descontrole liberal gerou, no passado, o nazifascismo, de um lado, e o stalinismo, de outro. Ambos, movimentos extremos e desvairados de recomposição do poder do Estado e de (re)enquadramento dos capitais.

Se à esquerda não se esboçam hoje movimentos totalitários, as evidências de que eles ressurgem à direita são abundantes. Desde a chacina na Noruega até as manifestações de intolerância com os imigrantes e os culturalmente diferentes em toda a Europa e também nos EUA.

Na França, ao lado das ações oficiais discriminatórias praticadas pelo atual governo, têm eclodido, com certa regularidade, manifestações violentas de protestos praticadas por jovens imigrantes pobres, majoritariamente africanos e árabes. Incendeiam automóveis, quebram e saqueiam lojas. Não é diferente o que ocorre hoje no Reino Unido. Os jovens pobres, segregados economicamente em Londres e em toda a Inglaterra, saem agora às ruas.

Saem também às ruas jovens insatisfeitos em Israel, nos países do Oriente Médio, na Grécia, na Espanha, em Portugal e no Chile. Por outros motivos, mas movidos por uma insatisfação semelhante, saem às ruas também as mulheres, os homossexuais, os ciclistas — nas marchas das vadias, nas paradas gays e nas pedaladas dos pelados. Sem uma bandeira que unifique e direcione suas ações, os protestos de hoje são difusos e diversificados.

A mobilização dos jovens é feita pela internet, utilizando as redes sociais, sem lideranças oficialmente constituídas. Germina uma nova forma de manifestação político-social. Ainda não se pode prever quais serão seus frutos. O que se pode ter certeza, desde já, é que estas manifestações e protestos são a expressão do final de um ciclo.


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