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31 de agosto de 2011
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11:46

Mesmo aprovado, aditivo da Arena do Grêmio ainda provoca dúvidas

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Sul 21
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Aditivo ao contrato de construção da Arena fará com que as obras custem R$ 65 milhões a mais | Foto: Divulgação/Grêmio

Igor Natusch

Aprovada em reunião do conselho deliberativo na última segunda-feira (29), o aditivo ao contrato de construção da Arena do Grêmio fará com que as obras do novo estádio tricolor custem R$ 65 milhões a mais. O acréscimo deverá ser compensado a partir das receitas de bilheteria dos primeiros sete anos após a inauguração. Para os responsáveis pela obra, o acordo entre Grêmio e OAS para obtenção de mais recursos junto ao BNDES resultará em uma série de contrapartidas e grande economia para o clube. No entanto, alguns setores dentro do clube dizem não estar seguros sobre o aditivo e pedem prazo maior para analisar todas as cláusulas.

Originalmente, o financiamento da Arena deveria oscilar entre R$ 140 milhões e R$ 170 milhões, corrigidos pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) quando da liberação efetiva dos valores. Com a aprovação do aditivo, as regras mudam e o financiamento passa a ser de R$ 260 milhões, sem a aplicação do INCC para fins de correção. Pelas regras anteriores, o valor máximo de financiamento, já corrigido, era atualmente de R$ 195 milhões, o que resulta em R$ 65 milhões de aumento real.

“É um investimento”, garante Eduardo Antonini, presidente da Grêmio Empreendimentos. Segundo ele, o aditivo reverterá em uma série de benefícios e melhorias no projeto original da Arena. Entre elas, o aumento da capacidade do estádio – que, caso seja mantida a proposta de uma área sem cadeiras para a torcida Geral do Grêmio, chegará aos 60 mil lugares –, a construção de uma segunda subestação de energia e a aquisição de uma certificação LEED, que diferencia empreendimentos imobiliários construídos de forma ambientalmente responsável.

A OAS compromete-se a construir um Centro de Treinamentos (CT) com dois campos de futebol, nas proximidades da própria Arena. Em princípio, os cofres gremistas não arcariam com os custos, mas uma cláusula prevê que o valor excedente a R$ 5 milhões fica a cargo do Grêmio. A construtora também deve disponibilizar outros R$ 5 milhões do financiamento para investimentos na área administrativa da Arena, em especial mobiliário e equipamentos.

“Não era necessário votar agora”, diz conselheiro

“Nossa preocupação é que os projetos e serviços propostos como justificativa para o aumento do financiamento não estejam detalhados e com previsão de custos”, critica Evandro Krebs, conselheiro gremista e um dos líderes do Movimento Grêmio Vencedor. Segundo ele, existem temas sendo tratados de uma forma que, em sua opinião, é superficial. “Como vamos tratar de projetos sem que seus custos estejam definidos? Como discutir acréscimo orçamentário sem detalhamento do orçamento original?”, questiona.

Evandro Krebs considera positivo que conselheiros tenham tido a possibilidade de discutir detalhes do aditivo antes da reunião de segunda-feira, e comemora o comprometimento da Grêmio Empreendimentos em contemplar as sugestões dos conselhos fiscal e de finanças do clube. Porém, lamenta que a votação tenha sido realizada antes de um texto definitivo. “Julgo que não era necessário votar em cima de um documento que não refletia totalmente o que devemos ter na versão final. Infelizmente, não foi possível, mas espero que o compromisso de atender as sugestões seja cumprido”.

“Em números redondos, tivemos 240 conselheiros presentes. Todos votam. No máximo, 20 conselheiros pediram mais prazo para analisar, o que não é nem mesmo um voto contrário. Isso dá mais de 90% de aprovação”, calcula Eduardo Antonini. “É uma questão política. Existe uma minoria que faz muito barulho e dissemina algumas informações erradas. O processo está sendo transparente, todas as comissões do conselho tiveram pleno acesso aos documentos”.

Capacidade maior que o Beira-Rio

Pelo novo acordo, a Arena passará a abrigar mais quatro mil cadeiras, ampliando sua capacidade para 60 mil lugares – 56 mil, se a área prevista para a Geral também for preenchida com assentos. Dos assentos extras, metade fica sob controle da superficiária, enquanto as outras 2 mil são de propriedade do Grêmio, podendo ser destinada a sócios remidos, proprietários de cadeiras perpétuas ou mesmo entrar na cota de algum patrocinador do clube. O custo dos novos lugares será de R$ 27 milhões, mas os responsáveis pelo acordo acreditam que o investimento não apenas se pagará, como pode gerar lucro de até R$ 18 milhões, em valores atuais.

Grupos de oposição, porém, criticam a iniciativa. Evandro Krebs, por exemplo, lembra que a capacidade originalmente discutida – de 52 mil lugares fixos mais 5 mil móveis na área destinada à Geral – estava embasada em numerosos estudos de viabilidade. “As justificativas para mais um aumento não me parecem suficientemente detalhadas”, afirma o conselheiro. A explicação de que, com a ampliação, a Arena terá capacidade maior que o Beira-Rio reformado é, na visão de Krebs, insuficiente. “A simples razão de ter mais lugares que o estádio do nosso tradicional adversário não me parece motivo para uma iniciativa dessas”, critica.

As críticas são rebatidas pelo presidente da Grêmio Empreendimentos, Eduardo Antonini. “Estamos construindo uma alternativa para atender o anseio do torcedor”, assegura.“Te digo com tranquilidade que mais de 90% dos torcedores estavam pedindo o aumento da capacidade do estádio”.

Outro ponto de incerteza reside no pedido gremista por uma segunda estação de eletricidade, não prevista no contrato original. Na primeira negociação com a OAS, ficou acertada apenas a construção de uma subestação de 13 KvA, que continua no projeto. Agora, a obra comportará também uma segunda estação, de 69 KvA. A iniciativa, segundo os proponentes, é para que o complexo tenha condição de usar grandes quantidades de energia a tarifas reduzidas. Eduardo Antonini diz que os cálculos foram feitos de forma independente, por uma empresa indicada diretamente pela Companhia Estadual de Energia Elétrica do RS (CEEE), comprovando a economia de R$ 174 mil por mês.

As melhorias que permitirão à Arena receber a certificação LEED, por sua vez, são principalmente no sentido de reutilizar a água das chuvas, e devem trazer, segundo a Grêmio Empreendimentos, alguns milhões de reais de economia anual. O principal impacto, porém, está na valorização da Arena como um todo: o LEED é considerado o selo de sustentabilidade mais importante do mundo e seria um diferencial importante na hora de atrair novos investidores e patrocinadores.

Mudanças pensando na Copa 2014

Existem insinuações de que as mudanças no contrato do Grêmio com a OAS teriam, no fim das contas, um objetivo mais concreto: viabilizar a Arena como estádio de Porto Alegre para a Copa de 2014. O aumento de capacidade do estádio, além de ampliação de alguns setores (área de imprensa, zona mista, camarotes) e da própria área total do complexo, seriam adequações úteis na eventualidade do Beira-Rio deixar de ser o estádio da cidade para os jogos da Copa do Mundo no Brasil.

“Acho que os aprimoramentos valem a pena”, diz Evandro Krebs, dizendo que desde o início do projeto havia o objetivo de atender todas as exigências do caderno de encargos da FIFA. “Algumas adaptações para redimensionar áreas operacionais do clube, por exemplo, podem ser muito positivas”. Mas acredita que essas readequações não seriam suficientes para justificar um aumento significativo nos custos do empreendimento. “Sempre defendi e sempre defenderei cautela nas coisas relacionadas com a Arena, que é extremamente importante para o futuro do Grêmio e o maior projeto da nossa história”.


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