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8 de julho de 2011
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22:12

Em SP, jornalista diz ter sido demitido a pedido de deputado

Por
Sul 21
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Em SP, jornalista diz ter sido demitido a pedido de deputado
Em SP, jornalista diz ter sido demitido a pedido de deputado
ricardo filho
“Liberdade de expressão é um discurso vazio”, diz jornalista | Foto: Arquivo Pessoal

Felipe Prestes

Em dez anos de profissão, o jornalista Ricardo Filho diz não ter visto nada parecido. Nesta quinta-feira (7), o deputado federal Carlos Roberto de Campos (PSDB-SP) foi até a redação dos jornais Folha Metropolitana e Metrô News, de Guarulhos (SP), para conversar com o diretor do grupo Orlando Reinas Júnior. Minutos após a conversa, foi anunciada a demissão de Ricardo.

O jornalista havia procurado o deputado federal com o objetivo de publicar uma grande entrevista sobre seu mandato. Mas também questionou Carlos Roberto sobre um caso de nepotismo na Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae). A empresa é ligada à secretaria estadual de Energia de São Paulo e contratou Matheus Achilles Gomes, sobrinho do secretário-adjunto Ricardo Achilles, para trabalhar em seu departamento jurídico.

Nesta quinta (7), foi publicada uma matéria no Metrô News – separada da grande entrevista que ainda não foi publicada – com as declarações de Carlos Roberto criticando os colegas de partido. A matéria desagradou o parlamentar e motivou a visita do tucano à redação dos veículos.

Segundo a assessoria de imprensa de Carlos Roberto, o jornalista teria feito ao deputado apenas uma pergunta genérica sobre o nepotismo, sem citar o caso específico do governo estadual. Trechos da matéria, entretanto, colocam declarações pontuais do parlamentar. “Se ele contratou um sobrinho é porque quis proteger um parente. Isso é imperdoável”, diz Carlos Roberto sobre o secretário-adjunto de Energia, Ricardo Achilles, segundo a reportagem.

A assessoria de imprensa do deputado diz ter a gravação da entrevista, mas colocou empecilhos à disponibilização do material. Afirma também que deve entrar com uma ação judicial contra o jornalista.

Em nota, o deputado diz não ter qualquer interferência sobre a demissão de Ricardo Filho. Ele afirma que foi até a redação do grupo de comunicação apenas para esclarecer o teor de sua declaração ao jornalista. “Para minha surpresa, por motivos que desconheço, a direção do jornal acabou por promover sua demissão. Importante frisar que em momento algum eu solicitei ou fiz menção neste sentido”, diz Carlos Roberto.

carlos roberto
Carlos Roberto recebe a visita de Serra e Alckmin em Guarulhos, durante as eleições de 2010 | Foto: Divulgação

O Sul21 tentou entrar em contato com a direção dos veículos, sem obter sucesso até o final da tarde desta sexta-feira (8). Na redação, diz-se que a decisão de demitir Ricardo Filho foi da direção da empresa e que, portanto, jornalistas não podem se pronunciar. Isto reforça a ideia de que não se tratou de uma demissão por critérios meramente técnicos.

“Liberdade de expressão é um discurso vazio”

Ricardo Filho diz que foi a “indignação” que o fez colocar a boca no trombone e falar abertamente sobre a demissão em seu blog. “Já passei saí antes de outros veículos. Mas é diferente você ser demitido pela questão mercadológica, por haver alguém mais competente para seu lugar. Nunca tinha visto situação parecida”.

Ele conta que nunca havia sofrido qualquer tipo de pressão no veículo em que trabalhava, e que sua trajetória era de ascensão na empresa. Há cerca de um mês tinha se tornado colunista. “Não sei te dizer o que acontece nos bastidores, mas seguramente ele (Carlos Roberto) tem algum poder dentro do jornal”.

Agora, Ricardo Filho teme que a pressão política atrapalhe sua carreira como jornalista. “Quero acreditar que outros veículos não sejam tão suscetíveis a este tipo de pressão. Prefiro acreditar nisto. Mas também não tenho essa certeza. Eu temo que para minha contratação haja prejuízo por conta da atuação política destas duas personalidades”, diz, referindo-se ao deputado e ao secretário-adjunto. “Se fala tanto em liberdade de expressão, em transparência, em ética, mas isto é só retórica, um discurso vazio”, completa o jornalista.


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