Geral
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6 de julho de 2011
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19:16

Direito ao ateísmo e ao agnosticismo, a web e a luta pela vida sem preconceitos

Por
Sul 21
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Fantástica a repercussão obtida pela notícia veiculada pelo Sul21 ontem a respeito da instalação da primeira campanha de mídia sobre ateísmo no Brasil. Os dois outdoors colocados em Porto Alegre, por iniciativa da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, foram ainda vistos por muito poucos moradores e transeuntes, mas a notícia se espalhou como um rastilho de pólvora pela web, em todo o Brasil e no mundo. Em 60 minutos, 2.808 internautas acessaram a página no Sul21. Até às 20h, segundo o Google Analytics (medidor de acessos utilizado pelo Sul21), tinham ocorrido 8.843 visualizações daquela página. Às 17h30, chegamos à primeira colocação nos trending topics do twitter. O acesso continua alto ainda hoje e, pelo jeito, o fluxo se manterá por alguns dias.

Mais surpreendente é o fato de tamanho ingresso de leitores ter ocorrido por meio de um assunto que, aparentemente, afeta a muito poucos brasileiros. De acordo com pesquisa realizada em 23 países do mundo pela empresa Ipos para a agência de notícias Reuters e divulgada em abril deste ano, o Brasil é o terceiro país em que mais se acredita em Deus, perdendo apenas para a Indonésia e a Turquia. Na Indonésia, 93% declaram acreditar em Deus, na Turquia são 91, enquanto no Brasil somam 84% os afirmam compartilhar desta crença.

Encabeçando a lista dos descrentes, segundo a pesquisa, apareceu a França, com 39%, a Suécia, com 37%, e a Bélgica, com 36%. O Brasil, apenas 3% declararam não acreditar em um ser supremo ou Deus e 4% que não têm certeza. Em todo o mundo, 58% disseram acreditar em uma “entidade divina”, enquanto apenas 18% afirmaram não acreditar e 17% declararam ter dúvida sobre sua existência.

Diante destes números, tanto da pesquisa, de um lado, quanto dos acessos à notícia do Sul21, de outro, fica claro que a internet e os veículos eletrônicos são movidos por meio de estímulos sobre nichos específicos. Quando se toca em uma questão que afeta a um determinado nicho (ou “tribo”), a notícia se espalha de modo instantâneo, como um raio. Ela “cai na rede” e dispara a comunicação virtual.

Este é um fenômeno que ocorre hoje em todo o mundo. Na Grécia, na Islândia, na Espanha, nas nações do Oriente Médio, na França, no Brasil etc. etc. etc. Em cada lugar e em cada momento ele se expressa de um modo e em resposta a um estímulo diferente. Mais do que motivações essencialmente “políticas” e ou “econômicas”, como as que moviam as massas urbanas do final do século XIX e de meados do século XX, o que embala as “explosões” na web hoje são motivações associadas a questões “meramente” comportamentais. São os “mamaços” (amamentações em público), as marchas das “vadias” e da “maconha”, as bicicletadas dos pelados, as paradas gay ou em prol da livre manifestação da homoafetividade e, agora, a campanha pelo direito ao ateísmo ou ao agnosticismo.

São todas manifestações pelo direito à vida e à liberdade, sem discriminações de qualquer ordem. No fundo, são manifestações pelo direito à indiferença. Pelo direito de todas as pessoas serem o que são, se isto não prejudica a outrem, sem que ninguém se incomode com isto. Ocorrem “espontaneamente”, porque não controladas por nenhuma organização específica ou por lideranças eleitas ou autonomeadas. São manifestações profundamente políticas e com repercussões econômicas significativas, conforme já demonstramos neste espaço. Só os partidos políticos e os retrógrados não percebem. Se não despertarem a tempo, ficarão para trás. É bom que corram!


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