Últimas Notícias > Geral > Noticias
|
22 de julho de 2011
|
21:50

Barrada em cinema de Porto Alegre, cadeirante acionará Justiça

Por
Sul 21
[email protected]
Barrada em cinema de Porto Alegre, cadeirante acionará Justiça
Barrada em cinema de Porto Alegre, cadeirante acionará Justiça
Vitória Bernardes | Arquivo Pessoal
Vitória Bernardes (d) é cadeirante há nove anos. Na segunda-feira, foi impedida de assistir a um filme no cinema em Porto Alegre | Foto: Arquivo Pessoal

Daniel Cassol

A psicóloga Vitória Bernardes, 26 anos, vai entrar na Justiça contra a rede de cinemas Cinemark por constrangimentos sofridos na última segunda-feira (18), em Porto Alegre. Cadeirante há nove anos, ela não pôde assistir a um filme no cinema do shopping Bourbon Ipiranga. O gerente teria dito que o local só possuía estrutura para pessoas “normais”.

“Ele falou isso para minha prima: ‘aqui não tem estrutura porque foi feito para pessoas normais’”, conta Vitória, em conversa com o Sul21. Na noite desta quinta, ela decidiu relatar o episódio em sua página no Facebook, e a denúncia causou grande repercussão na internet.

Segundo o relato de Vitória, ela e três primas pediram ajuda a funcionários do Cinemark para que a cadeirante pudesse assistir ao filme em um lugar mais afastado da tela. Vítima de uma bala perdida quando tinha 17 anos, Vitória tem uma placa de titânio na altura do pescoço, o que dificulta a inclinação da cabeça. Como os espaços destinados às pessoas com deficiência ficam na parte de baixo da plateia, muito próximos ao telão, ela pediu que fosse levada até uma poltrona mais alta.

O gerente do cinema, de nome Maurício, teria dito que os funcionários não poderiam carregá-la até uma poltrona no alto da plateia. O gerente teria impedido também que as primas levassem Vitória. O cinema, segundo o gerente, só possuía estrutura para atender pessoas “normais”.

“Eu queria enfiar a cabeça dentro de um buraco, esquecer que existe esse tipo de coisa. Mas eu ainda tenho acesso e estrutura para reivindicar, enquanto muitas pessoas com deficiência não têm. Decidi que não vou ficar constrangida toda vez que pensar em ver um filme”, desabafa.

O Sul21 telefonou para o gerente Maurício, que alegou não poder falar sobre o episódio. A assessoria de imprensado Cinemark encaminhou nota na qual pede desculpas pelo ocorrido, mas alega que os funcionários não são autorizados a ajudar no deslocamento, para garantir a segurança do espectador.

“A Rede Cinemark pede desculpas à cliente e sua família por todo esse transtorno e por qualquer tratamento indelicado por parte de sua equipe. No entanto, para conservar a segurança do espectador e evitar possíveis acidentes, os funcionários da Cinemark não são autorizados a ajudar no deslocamento de clientes da cadeira de rodas para a cadeira normal”, diz o texto.

Vitória decidiu entrar com uma ação na Justiça contra o Cinemark e, para tanto, vai recorrer aos serviços do advogado Gilberto Stanieski Filho, também cadeirante.

“Infelizmente, a gente sabe que tem várias leis que asseguram nossos direitos. Mas o fato é que não encontramos isso diariamente. A gente tem que contar muito com a boa vontade das pessoas, o que é desgastante. Eu enfrento dificuldades, mas encontro pessoas disponíveis. Já fui várias vezes no Bourbon Country e nunca tive problema. Dessa vez (no Bourbon Ipiranga), me senti lesada como pessoa”, afirma Vitória.

Casos como esse já resultaram em condenações na Justiça. No dia 30 de junho, a 3ª Turma Recursal Cível da Justiça Especial gaúcha condenou o GNC Cinemas a indenizar em R$ 6 mil um casal que tentou assistir a um filme na sala do Shopping Praia de Belas, em Porto Alegre. O local não possuía, em março de 2010, acessibilidade adequada para cadeirantes entrarem na sala de cinema.

Atualizada às 19h47 de sexta-feira (22).


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora