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22 de junho de 2011
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19:41

“Gays precisam aprender a conviver em sociedade”, afirma vereador paulista

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Sul 21
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“Gays precisam aprender a conviver em sociedade”, afirma vereador paulista
“Gays precisam aprender a conviver em sociedade”, afirma vereador paulista
Carlos Apolinário propôs criação do Dia do Orgulho Hetero na Câmara Municipal de São Paulo | Foto: Divulgação/CMSP

Igor Natusch

Um projeto inserido na pauta da Câmara Municipal de São Paulo despertou forte reação da comunidade LGBT e movimentou as redes sociais na quarta-feira (22). De autoria do vereador Carlos Apolinário (DEM), o projeto que cria o Dia do Orgulho Heterossexual entrou na pauta de votação com regime de urgência, a menos de quatro dias da Parada Gay em São Paulo. O projeto tem apoio da bancada evangélica na Câmara e foi remetido à Casa com o apoio de 28 dos 55 parlamentares. Pela proposta, a data seria comemorada anualmente no terceiro domingo de dezembro. Em entrevista exclusiva para o Sul21, o vereador garante que seu projeto não é um ataque à comunidade LGBT, e sim uma tentativa de reforçar a igualdade entre os gêneros.

“O dia do hetero não é algo contra os gays. Aqui em SP você tem dia da lésbica, dia do orgulho gay, por que não pode ter dia do hetero?”, pergunta. Segundo Carlos Apolinário, a ideia também é criticar a decisão de permitir a Parada Gay na Avenida Paulista, enquanto outras manifestações são proibidas no local. “Não sou contra a Parada. Até a Marcha da Maconha pode ser feita, estamos em uma democracia. Mas nos proibiram de fazer a Marcha por Jesus (na Paulista)”, exemplifica.

O vereador paulistano garante que defende ideia semelhante desde 1996, quando a então deputada federal Marta Suplicy (PT) começou a discursar no Congresso a favor da união civil de homossexuais. “Ser gay é um direito e não um privilégio”, reforça o vereador do DEM. “Se o gay for para a Parada defender o casamento gay, eu pessoalmente sou contra, mas é um direito. Se ele for defender a adoção de crianças, a mesma coisa. Mas aqui em SP, na Parada do ano passado, o prefeito e o governador entregaram camisinhas e gel! Isso deixa de ser direito e vira distribuição de acessórios para fazer sexo. Eles precisam de camisinha e gel de graça?”

Graças ao esforço de vereadores do PT e PPS em São Paulo, o projeto deixou de encabeçar a pauta desta quarta (22), sendo jogado para o final da fila. A ideia é impedir a votação antes da Parada Gay, de forma a evitar constrangimentos para a Casa. “Eu votaria se fosse em outra data, mas perto da Parada é querer criar um clima de animosidade desnecessária para a cidade”, declarou o vereador Juscelino Gadelha (sem partido), em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo. No entanto, Carlos Apolinário garantiu que fará esforços para que a apreciação do projeto ocorra ainda hoje, prometendo obstruir todos os outros projetos até que sua proposta seja levada à votação.

O vereador nega de forma veemente que esteja defendendo uma atitude de preconceito contra homossexuais. “Defendo que gays e heteros respeitem a moral e os bons costumes. Não só os gays, mas também os heterossexuais”, assegura. E exemplifica o que considera “forçada de barra” por parte da comunidade LGBT. “Eu sou casado há 38 anos. Se eu vou a um restaurante com a minha mulher, eu posso entrar de mãos dadas, colocar a mão no ombro, mas não vou dar beijo de língua nela lá dentro. Aqui em São Paulo, o gay deu beijo de língua, o dono do bar pediu para dar uma maneirada, e no dia seguinte foram 20 casais gays lá para dar um beijaço. A partir do momento em que ficam dando beijos em público, de modo ostensivo, é uma atitude para agredir a sociedade. Imagina, eu que sou evangélico: se eu for discriminado, vou lá no dia seguinte fazer um culto lá dentro? Não dá”.

Na visão de Carlos Apolinário, o governo precisa posicionar-se de forma a defender os interesses de todos, ao invés de “propagandear” uma classe específica. Ele é, por exemplo, totalmente contra o material anti-homofobia produzido pelo Ministério da Educação, apelidado pelos críticos como “kit gay”. “Até a Dilma, que não é de religião, falou que o vídeo não era bom”, afirma. “Assisti um dos vídeos que está na internet, onde dois homens ficam se beijando, e eles iam passar isso dentro das escolas! Você acha que precisa ensinar as crianças sobre esse assunto? Daqui a pouco, vão fazer campanhas tipo ‘vire gay e ganhe 10% de desconto’, outdoors dizendo que ser gay é a melhor coisa”.

Mesmo assim, o vereador frisa que não concorda com as posições do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), um dos principais crítico das medidas afirmativas em favor da comunidade LGBT. “Eu jamais vou tentar atingir a dignidade humana de um homossexual, de forma alguma. Meu cabeleireiro é gay, tive funcionários gays, quando concorri a governador o meu maquiador era gay. Não tenho nenhum tipo de preconceito ou homofobia, apenas acho que os gays precisam aprender a conviver em sociedade”.

Atualização (19h45):

A sessão de quarta-feira da Câmara Municipal de São Paulo foi encerrada sem que houvesse a votação do projeto que quer instituir o Dia do Orgulho Hetero na cidade. Vereadores contrários à proposta de Carlos Apolinário (DEM) conseguiram obstruir a votação da matéria, que deverá ser apreciada em uma das próximas sessões da Casa. Como o pedido de urgência era relativo ao dia 22, será necessário um novo acordo para que a matéria ganhe prioridade na pauta do dia específico.

“Os homossexuais dizem que são discriminados pela sociedade, quando na verdade são eles que discriminam aqueles que não concordam com suas opções sexuais”, diz Carlos Apolinário na justificativa anexa ao PL 294/2005, que pede a criação do Dia do orgulho Heterossexual. Segundo o texto, os homossexuais “não se satisfazem com o anonimato” e muitas vezes “agridem verbalmente aqueles que não concordam com suas ideias”. “Quando os homossexuais aprenderem a respeitar a sociedade que é composta pelos seus pais, irmãos, familiares e amigos com certeza a sociedade também irá respeitá-los, pois aqueles que querem respeito devem agir de forma respeitosa”, declara o vereador do DEM no documento. O projeto de lei que pede o Dia do Orgulho Hetero pode ser acessado aqui.


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