Dilma mantém barreiras no comércio com a Argentina

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Jorge Seadi

O governo brasileiro não vai rever as barreiras impostas à importação de veículos argentinos desde a terça-feira, dia 10, como exige o governo argentino. A decisão do Palácio do Planalto é de não ceder à pressão do país vizinho. Nesta segunda-feira (16), a ministra da Indústria da Argentina, Débora Giorgi, disse que aceitava conversar com o Brasil sobre o comércio bilateral somente depois que o Brasil voltasse a liberar as “licenças automáticas” de importação para os produtos fabricados naquele país, principalmente automóveis, autopeças e pneus. “Não há sentido em fixar pré-condições para termos uma reunião. Tanto da nossa parte como da Argentina. Estamos sempre dispostos ao diálogo e o diálogo está prosseguindo”, afirmou o ministro de Desenvolvimento e Indústria do Brasil, Paulo Pimentel.

Oficialmente, o ministro brasileiro afirma que as medidas adotadas pelo Governo do Brasil não são represálias contra a Argentina. “São medidas que valem para todos”, ressaltou Pimentel. No entanto, fontes do próprio ministério dizem em “off” que não há espaço para recúos e que o Brasil poderá, até, endurecer ainda mais, caso a presidente Cristina Kirchner não dê ordens a sua equipe para que abra negociações e reveja as medidas adotadas contra 600 produtos brasileiros. Desde janeiro, a Argentina cancelou todas as licenças automáticas de entrada de produtos brasileiros e muitos deles estão parados na fronteira dos dois países há mais de 60 dias, alguns até 12o dias.

Conflito comercial chegou a nível presidencial

A imprensa argentina noticia, hoje (17), que o conflito comercial com o Brasil chegou até a presidência dos dois países. O jornal El Clarín, por exemplo, cita a declaração de Dilma Rousseff em seu programa “Café com a Presidenta” em que mandatária brasileira antecipa novas medidas para favorecer as exportações brasileiras. “Vou buscar os meios para  reduzir a burocracia que enfrentam as empresas nacionais no comércio com outros países”. Dilma deixou claro que esta será uma das primeiras tarefas do Conselho de Gestão, empossado na semana passada, e que terá a direção de Jorge Gerdau. “Vamos transformar o Brasil em um país mais competitivo no mercado internacional”, reforçou a presidenta brasileira.

Na Argentina, as declarações da presidenta brasileira foram interpretadas como uma forma de “endurecer” o diálogo com a presidente Cristina Kirchner. Mesmo assim, a presidente da Argentina não deu nenhuma declaração sobre o conflito, determinando que tudo se concentra no Ministério da Indústria. Fontes do governo argentino não desejam criar um conflito com o Brasil, principalmente depois que as relações com os Estados Unidos estão “congeladas” desde o incidente com carga apreendida de um avião militar americano em Buenos Aires. No entanto, eles sabem que há grandes divergências entre os dois países “e não há luz no fim do túnel”.

Hoje, a ministra da Indústria, Débora Giorgi e seu secretário de Indústria, Eduardo Bianchi, tem uma reunião com o embaixador brasileiro, Enio Cordeiro, em Buenos Aires. Esta será uma reunião preparatória para o encontro entre os ministros dos dois países. Pimentel e Débora conversaram várias vezes, por telefone, nesta segunda-feira. (16).

Indústria argentina adverte governo

O presidente da Associação de Fabricantes de Automóveis (ADEFA, sigla argentina), Aníbal Borderes, advertiu que o conflito com o Brasil pode ter “consequência nos empregos e na produção” dos fabricantes argentinos. Somente agora, depois da semana em que o conflito se estabeleceu é que a indústria argentina deu seu parecer sobre a briga comercial. Aníbal lembra que as montadoras são responsáveis por 50% do crescimento da indústria argentina, além de dar emprego direto para 30 mil e ser responsável, na verdade, pelo trabalho de mais de 130 mil pessoas, 7,5% da força de trabalho da Argentina.

Porém, os sinais de inconformidade do governo brasileiro já vêm de algum tempo. Jorge Vasconcelos, economista da Fundação Mediterrânea, lembra que, em fevereiro passado, os inspetores brasileiros que davam certificados sanitários para que as peras e maçãs argentinas pudessem entrar no Brasil, foram mandados embora.

Há grande preocupação entre os exportadores e importadores argentinos com o atual momento com o Brasil. Miguel Ponce, gerente de Relações Institucionais da Câmara de Importação da Argentina, disse que ” isto não é surpresa, a Cãmara vem alertando há muitos meses que, em algum momento, haveria uma resposta do nosso sócio do Mercosul”. Miguel Ponce lembra que “desde que começou o Mercosul este é o momento de maior tensão com o Brasil, que coloca em dúvida acordos dentro do bloco e com a União Europeia, além de ameaçar os empregos”. Lembrando que de cada 10 carros produzidos na Argentina 8 são exportados para o Brasil, Ponce diz que ” quando estas brigas comerciais começam, nunca se sabe que alcance terão, por isso é importante voltar ao terreno da sensatez.

Com informações do El Clarin, La Nacion, Pagina 12 e UOL


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