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12 de abril de 2011
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19:47

O papel da liberdade e da igualdade na formação do Estado brasileiro

Por
Sul 21
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João Pedro Stédile


Rachel Duarte

“Não podemos falar de país rico se ainda existir pobreza”. A frase já dita pela presidenta Dilma Rousseff foi recordada pelo economista e membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) gaúcho, João Pedro Stédile, durante o segundo dia de debates no I Fórum da Igualdade, em Porto Alegre. O evento, que reúne especialistas, acadêmicos e profissionais da comunicação desde ontem (11), é um contraponto ao Fórum da Liberdade, também sediado no Rio Grande do Sul, ontem (11) e hoje (12). O aprofundamento dos conceitos de liberdade e igualdade e o que eles têm a ver com a sociedade e com a comunicação foram o centro da exposição dos palestrantes desta terça-feira (12), na Assembleia Legislativa.

João Pedro Stédile foi o primeiro a falar. Por 40 minutos, discorreu sobre a problemática social que envolve o país. Para ele, são quatro os pontos que contribuiram, ao longo de 500 anos, para a formação de uma nação desigual: concentração de riqueza maior que a distribuição de renda; sistema capitalista aliado à escravidão e a evolução do capitalismo até o domínio do capital financeiro; condições desiguais de trabalho e má qualidade da educação. “Segundo dados da pesquisa feita pelo economista Márcio Pochmann, apenas 1% das famílias brasileiras são donas de 48% do PIB nacional. Enquanto 40 milhões de brasileiros só se alimentam porque recebem o Bolsa Família do governo federal”, comparou.

Outros dados da mesma pesquisa, apresentados por Stédile no evento, retratam que 15 mil fazendeiros brasileiros detêm 100 milhões de hectares de terra no país. “É como se a Europa inteira fosse de propriedade de 15 mil famílias de fazendeiros brasileiros”, exemplificou. Também citou outro exemplo: “O Orçamento do RS é de R$ 29 bilhões. Este foi o lucro líquido da empresa Vale em 2010. E o que é pior: 60% deste lucro é destinado à Bolsa de Nova York, que não é nem capitalizada no Brasil”.

Visões de mundo

Pedrinho Guareschi

Segundo a falar, o sociólogo da PUCRS, Pedrinho Guareschi, aprofundou os conceitos de liberdade e igualdade, contribuindo para a compreensão sobre por que a sociedade brasileira chegou a tal ponto de desigualdade e como revertê-la. Para ele, as diferenças de visões do mundo se dividem entre individualistas, comunitárias e totalitárias. E, a partir delas, as pessoas se constituíram ao longo do tempo. “A questão é que ser eu sou? E o que outro ao meu lado é?”, indagou. Segundo Guareschi, as pessoas não podem ser sozinhas, elas precisam das relações. “Os liberais são os individualistas. O que importa são eles e o que será melhor para eles. Os outros, tanto faz”, disse.

Guareschi afirma que afirma que a comunicação é “o principal instrumento de construção da democraria”. Por isso, ressalta, ela “não pode ser tratada como mera mercadoria, que atende os interesses das empresas”.

Críticas à Constituição

O escritor italiano e ex-metalúrgico Vito Giannotti recorreu a exemplos menos subjetivos para defender sua visão sobre a relação entre democracia e comunicação. Ele citou matérias da revista Veja e da Folha de S. Paulo, qualificadas por ele como instrumentos da direita brasileira, para mostrar como os preconceitos estão arraigados nas reportagens. A matéria referida por ele citava meninos de uma escola de periferia que, por serem da favela, foram qualificados pela revista como marginais e de famílias de traficantes. “Onde está a pesquisa que comprova isto?”, perguntou. “Estes verbos dão a entender que eles podem já estar marginalizados. Mas por quê? Por que são negros? Favelados?”, questionou.

Vito Gianotti

Para Gianotti, o Brasil não vive um regime democrático. Ele criticou a Constituição de 88. Segundo ele, ela dá uma mera aparência de democracia, sendo, no entanto, distante das práticas do sistema judiciário brasileiro e dos governantes. “DEM, PSDB. Tudo isso pode desaparecer. O que persistirá sempre são os seus interlocutores da burguesia”, falou, insinuando que estes interlocutores são os donos de grandes emissoras do país. Mas, de acordo com ele, não adianta a esquerda e os movimentos sociais apenas criticarem a grande imprensa brasileira. “Temos que exigir do governo Dilma que sejam revistas as concessões das emissoras de rádio e televisão”, disse.

O I Fórum da Igualdade segue, nesta tarde de terça-feira (12), com o painel Papel do Estado e Os Meios de Comunicação, debatido pelos jornalistas Altamiro Borges e Vera Spolidoro. A partir das 16 horas, está prevista a Marcha da Igualdade e um Ato de Encerramento no Largo Glênio Peres.


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