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4 de março de 2011
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02:03

Reforma do Beira-Rio divide a política do Internacional

Por
Sul 21
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Reforma do Beira-Rio divide a política do Internacional
Reforma do Beira-Rio divide a política do Internacional
Divulgação / Sport Club Internacional
Internmacional começou a demolir parte do estádio sem ter modelo definido para reforma (Foto: Divulgação / Sport Club Internacional)

Felipe Prestes

O Internacional quer definir o quanto antes o modelo a ser adotado para a reforma do Estádio Beira-Rio. A decisão precisa ser referendada pelo conselho do clube, que está dividido. Uma reunião que começou ontem (2) entre os conselheiros adentrou a madrugada desta quinta-feira (3). Foram apresentados dois modelos diferentes.

O ex-presidente Vitorio Piffero defendeu que o clube faça a obra com recursos próprios. Para isto, conta com recursos da venda do terreno onde fica o Estádio Eucaliptos (cerca de R$ 28 milhões) e verba que pode ser captada com a comercialização de novos camarotes no Beira-Rio. Serão 100 novos camarotes, cujo aluguel custará R$ 1 milhão por dez anos, além de cadeiras VIP e Gold. Este modelo, contudo, não deve convencer a FIFA, uma vez que não há garantias de que o Internacional consiga vendê-los a tempo de tocar as obras.

O atual presidente Giovanni Luigi defende a parceria com a empreiteira Andrade Gutierrez. A ideia da parceria é que a empresa realize as obras e possa explorar por 20 anos tudo o que ainda não existe nas dependências do Beira-Rio – dentro e fora do estádio – como novos camarotes, edifício-garagem, hotel e shopping center. O Internacional continuaria com 100% da arrecadação dos espaços já existentes na área do estádio. Luigi argumenta também que a obra custará bem mais que os R$ 130 milhões previstos por Piffero. O presidente colorado estima a obra em R$ 200 milhões.

Giovanni Luigi não descansou após a longa reunião. Convocou uma coletiva de imprensa para a manhã de hoje (3) para reforçar o ponto de vista que a atual diretoria tem do empreendimento. O CEO do clube, Aod Cunha, disse que o Internacional já tentou o modelo de autofinanciamento a não obteve sucesso. Os colorados buscaram financiamento em onze instituições financeiras e não conseguiram. “Isso nos leva a acreditar que existe apenas essa opção de parceria na qual o empreendimento seja a preço fechado, em que o Clube não se endivide e que tenha as garantias exigidas pela Fifa”, declarou.

Relação de Luigi com ex-presidente Piffero azedou (Foto: Divulgação)

Divisão no Conselho

Caberá ao Conselho Deliberativo do Internacional definir o novo modelo. Os conselheiros ficaram satisfeitos com as apresentações feitas na reunião de ontem (2), mas manifestaram o desejo de mais um encontro antes de decidirem o futuro do Estádio Beira-Rio. No dia 14 de março, haverá nova reunião e, no dia seguinte, deve acontecer a votação.

O sentimento entre os conselheiros do clube é diverso. Um número grande deles prefere, inclusive, que o clube deixe a Copa do Mundo de lado e se concentre em reformar o estádio apenas para o bem-estar dos torcedores e para valorizar seu patrimônio. Assim, o Internacional teria prazos maiores para tocar a obra e poderia fazê-lo à medida em que tivesse recursos. Esta tese, entretanto, dificilmente prevalecerá. Há o entendimento de que o clube ficaria com um descrédito institucional muito grande, se jogasse para o alto a Copa do Mundo.

Grande parte dos conselheiros entende que, se o clube quer mesmo sediar a Copa do Mundo, deve fazer a parceria com a Andrade Gutierrez. Contudo, os conselheiros desejam aprofundar na reunião do dia 14 um modelo em que a empreiteira explora apenas o entorno do estádio.

A decisão final do conselho é imprevisível. Giovanni Luigi tem maioria entre os 346 conselheiros do clube, mas esta pode estar indo por água abaixo. Luigi foi o candidato apoiado pelos ex-presidentes Vitorio Piffero, que agora não só está contra a parceria com a Andrade Gutierrez, como demonstrou, na reunião de ontem (2), que sua relação com Luigi azedou.

Piffero pode levar consigo um grupo de cerca de 30 conselheiros para a oposição. Além disto, o ex-presidente Fernando Carvalho também teve estremecimentos com a nova direção. Ele teria rompido com o atual vice-presidente de Futebol, Roberto Siegmann, de quem era íntimo amigo.

De qualquer forma, a decisão deve ficar mesmo para o dia 15. Ainda que a FIFA não tenha dado um prazo para esta definição, o Internacional deseja comunicá-la o mais rápido possível de que já tem um modelo escolhido, de preferência aquele que tenha a concordância da entidade.

A pressão sofrida pelo clube nos últimos dias não tem relação apenas com o modelo a ser escolhido. A briga pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro deixa também a direção do Internacional em alerta. O Colorado é um dos únicos quatro clubes integrantes do Clube dos Treze que ainda se mantêm a favor do edital de licitação proposto pela entidade.

Assim, o clube ocupa posição antagônica à da CBF, que está aliada à Rede Globo. Ser desafeto de Ricardo Teixeira pode, sim, tirar o Beira-Rio da Copa do Mundo. O São Paulo, por exemplo, que vive às turras com a CBF, viu o Morumbi ser excluído do torneio para dar lugar a um hipotético estádio do Corinthians que não tem nem sequer um projeto consistente. Coincidência ou não, o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, é fiel escudeiro de Teixeira, tendo sido, inclusive, chefe da delegação brasileira na Copa do Mundo da África do Sul.

Enquanto o Internacional estremece sua relação com a CBF, o Grêmio foi um dos primeiros a manifestar o desejo de negociar diretamente com a Globo, o que pode deixar a Arena mais perto da Copa. Nos próximos dias, o Internacional deve ceder à pressão e anunciar que também negociará seus direitos com a emissora do plim-plim.

Divulgação / PMPA
João Bosco Vaz e Paulo Odone, durante encontro para discutir obras da Arena do Grêmio (Foto: Divulgação / PMPA)

“Estamos fazendo obras na cidade toda”

O secretário municipal da Copa de 2014, João Bosco Vaz, diz que a prefeitura não trabalha com plano B, uma vez que a FIFA não deu outra determinação que não a de que o Beira-Rio sediará a Copa do Mundo. “A FIFA escolheu o Beira-Rio, não foi a prefeitura nem o governo do estado. Ela disse que não tem plano B, que é o Beira-Rio”, afirma.

O secretário ressalta, porém, que estão sendo pensadas obras de mobilidade urbana em toda a cidade, apesar de que parte delas seja no entorno do estádio do Internacional. Ele afirma que a Arena, independentemente de ser ou não um plano B, vai ganhar obras, assim como o Beira-Rio. “Porto Alegre não está trabalhando com a hipótese de que o Beira-Rio não será sede. As obras também contemplam a Arena, porque é uma grande construção. Aquela área do Humaitá precisa de vias para lá, vai ter shopping, hotel. A Prefeitura está fazendo obras que contemplam a cidade”.

As principais obras no entorno do estádio do Internacional são nas avenidas Padre Cacique e Edvaldo Pereira Paiva (conhecida como Avenida Beira-Rio), além da duplicação da Avenida Moab Caldas (conhecida como Avenida Tronco), que fará a ligação entre a Terceira Perimetral e as proximidades do estádio.

Destas obras, a prefeitura já começou a duplicar a Beira-Rio. A avenida ficará com três pistas em cada sentido, além de canteiro central e ciclovia. A Padre Cacique ganhará corredor de ônibus para conectar a região central via Avenida Borges de Medeiros com a Avenida Tronco. Esta última será alargada para abrigar corredores de ônibus e três pistas em cada sentido. Para estas obras, o governo federal desembolsará R$ 156 milhões, e a prefeitura R$ 8 milhões. Neste valor, contudo, não consta a desapropriação de residências, o que será necessário na duplicação da Avenida Tronco.

beira rio
Duplicação da Beira-Rio já começou (Foto: Jonathan Heckler/PMPA)

“O Internacional tem um compromisso com a cidade”

O secretário João Bosco Vaz afirma que o Internacional batalhou para sediar a Copa do Mundo e agora deve cumprir com esta responsabilidade. “O Internacional brigou para ser sede da Copa. Então, o Internacional tem um compromisso com a cidade”. Bosco opina que o clube deve optar pela parceria com a Andrade Gutierrez. “O Inter não perderá nenhuma das receitas que tem atualmente”.

Bosco critica o ex-presidente Vitorio Piffero. “O presidente Vittorio Piffero teve 24 meses para começar as obras e não fez nada. Agora, está contra esta parceria”.

Uma das preocupações da prefeitura é com a Copa das Confederações. O evento ocorre sempre no país-sede da Copa do Mundo, um ano antes do maior torneio do futebol mundial. É considerado um teste para as cidades, mas só cinco sediarão este campeonato. Para sediar o torneio é preciso estar com o estádio pronto até dezembro de 2012. “Se em dezembro de 2012, não tiver pronto o estádio, não tem Copa das Confederações aqui. Tem doze sedes, só cinco cidades serão escolhidas. Será um grande evento. A Copa das Confederações sai nas cidades para testar os estádios da Copa”, afirma Bosco.

O secretário afirma que, neste momento de indefinições, a prefeitura nada pode fazer para ajudar o Internacional. “A prefeitura ajuda a agilizar a licença ambiental, o estudo de viabilidade, mas não vai se intrometer em um negócio que é privado”.

João Bosco Vaz garante que a administração municipal está fazendo a sua parte, cumprindo o cronograma de obras, para que a cidade esteja pronta para sediar inclusive a Copa das Confederações. “Porto Alegre foi uma das primeiras cidades-sede a assinar o contrato com a Caixa Econômica Federal de R$ 500 mi para as obras de mobilidade urbana. Tem muitas cidades-sede que ainda nem assinaram ainda. Então, Porto Alegre está dentro do cronograma. A parte da Prefeitura está sendo feita”.


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