Opinião
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14 de março de 2011
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12:08

Desastres

Por
Sul 21
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Adão Paiani*

O desastre natural no Japão retirou, na mídia, um espaço que poderia ser utilizado para discutir tragédias mais próximas de nós, ocorridas no feriado de carnaval; e que nos atingem mais diretamente que as do outro lado do mundo. Não que o espaço utilizado para cobrir o ocorrido no país asiático não seja importante; um abalo de proporções épicas sempre será notícia prioritária.

Além das imagens impressionantes; o desastre japonês deveria nos fazer refletir sobre o que temos logo ali, na volta da esquina. Análise do número oficial de mortos na calamidade japonesa mostra absurdo da quantidade de vítimas em acidentes nas ruas e estradas do Estado e do país.

Em 2010, só no RS, acidentes de trânsito tiraram 1.600 vidas. Sem contar os que morreram depois, após dolorosa agonia. E os mutilados, nos diferentes graus. Nas estradas federais do Brasil, apenas no carnaval de 2011, ocorreram 4.165 acidentes, com 2.441 feridos e 213 mortos. Desastre de proporções também épicas que, ao contrário do japonês, não causa mais perplexidade. E que se repete, dia após dia.

A cada tragédia, a pergunta: até quando? A resposta: até compartilharmos responsabilidades individuais e coletivas; exigindo políticas de investimento em vias e diferentes modais de transporte; educação continuada; fiscalização rigorosa, penalidades mais duras e tolerância zero para a transgressão no trânsito.

Precisamos de coisas importantes:

Leis mais severas, que sobreponham o interesse público às posturas individuais, principalmente quando atentam, criminosamente, contra a vida e integridade dos demais.

Melhores estradas; com investimento do compulsoriamente arrecadado dos cidadãos na malha viária. No RS, últimos investimentos de porte em estradas foram feitos ainda na década de 70. Continuamos perdendo para os governos militares em infra-estrutura de transporte.

Discutir modais alternativos; revendo opção que prioriza o transporte rodoviário, caro e ineficaz; graças ao lobby das montadoras de veículos e transportadoras; contra as quais poucos têm a coragem de se opor.

Legislação que racionalize utilização de estradas. Na Comunidade Européia, proíbe-se que motoristas de passageiros e cargas dirijam mais que 4 horas sem parada obrigatória de, no mínimo, 45 minutos; sendo restrito tráfego de ônibus e caminhões à noite. No Brasil, profissionais são obrigados a cumprimento de horários e percursos absurdos; colocando em risco sua vida e dos outros. Não por acaso, a maioria dos acidentes de trânsito sempre tem um caminhão envolvido.

Ou isso, ou continuaremos a perder vidas tão preciosas quanto às do Japão. Com uma diferença: nosso desastre nada tem de natural.

* Advogado


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