Opinião
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3 de fevereiro de 2011
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08:00

A educação de Porto Alegre em xeque

Por
Sul 21
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Liana Borges e Adeli Sell *

Em debate pelos jornais, Mariza Abreu, ex-secretária de educação do Rio Grande do Sul, afirma que em Porto Alegre os problemas da educação devem ser atribuídos às políticas educacionais do PT e do PDT, pois somente estes partidos governaram a cidade nos últimos vinte e quatro anos. Na verdade, pode-se inferir que o que está no centro da crítica é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) que, em nossa avaliação, é a ponta do iceberg de um julgamento bem mais complexo, pois é provável que tanto a organização curricular de Porto Alegre — Ciclos de Formação –, como a visão de gestão democrática da educação versus modelo de gestão de resultados, seja, de fato, o calcanhar de Aquiles do debate.

O IDEB, criado em 2005, a cada dois anos mede a qualidade das escolas, tomando por base o desempenho dos estudantes em língua portuguesa e matemática, bem como os percentuais de aprovação. Para exemplificar, em Porto Alegre, no ano de 2009, considerando-se dois grupos de escolas (grupo A, escolas municipais; grupo B, escolas estaduais localizadas na capital), para o último ano do 1º segmento do ensino fundamental, o grupo A obteve a nota de 4,1 e o B conquistou 4,3. Da mesma forma, mas para o ano final do 2º segmento do ensino fundamental, 3,6 e 3,4 para as escolas dos grupos A e B, respectivamente.

Sem dúvida, os resultados apontam para uma contradição, pois a lógica leva-nos a pensar que as condições da rede pública municipal são superiores às da rede pública estadual, como condições de trabalho; formação inicial e formação continuada em serviço, o que não se reflete nos índices do IDEB.

Para superar este impasse, nossa proposta é perguntar ao professor o que lhe mobiliza, o que poderia provocar-lhe o desejo de ser protagonista na busca e na aplicação de determinada teoria (e prática). Sensibiliza-nos, da mesma maneira, que possamos descobrir, através do diálogo com os educadores, educandos e com a comunidade escolar, o que esperam e o que precisam da/na escola, pois não estamos de acordo com nenhum “fundamentalismo pedagógico”, mas encontramo-nos em consonância com respostas que venham a superar qualquer explicação simplista sobre a qualidade da educação de Porto Alegre.

Um provável indicativo para análise futura é a presença de um certo sentimento de desânimo que se manifesta em perguntas frequentes nas falas dos professores: Por que os alunos não aprendem? Por que a escola não consegue corresponder às expectativas da comunidade? Por que o IDEB não consegue transpor o esforço e os avanços constituídos nos ambientes escolares?

O Ministério da Educação (MEC) apregoa que a aferição de resultados é condição para a elaboração de planos de ação. Entretanto, não há pleno acordo sobre a forma como a mesma vem sendo desenvolvida, apesar da importância de se ter mecanismos avaliativos das aprendizagens dos educandos da educação básica e do ensino superior.

Enfim, se é necessário avaliar a qualidade da educação, e consideramos que sim, que façamos um amplo diálogo acerca do melhor instrumento e sobre a maneira correta de aferição, superando, com isso, o caráter condenativo (de quem é a culpa) ou rotulatório (é do professor) ou ainda a visão simplista e preconceituosa adotada na nota que provocou nosso pronunciamento.

* Liana Borges é educadora da Rede Municipal de Porto Alegre e coordenadora do Fórum Estadual de EJA do RS, Adeli Sell é vereador e presidente do PT/Porto Alegre


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