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1 de janeiro de 2011
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18:34

Dilma Rousseff, no Congresso: ” O Brasil do futuro será do tamanho do que fizermos por ele”

Por
Sul 21
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Jane de Araújo / Agência Senado
Dilma Rousseff assina o termo de posse | Foto: Jane de Araújo / Agência Senado

Igor Natusch

A primeira mulher a assumir a Presidência do Brasil reforçou seu compromisso com o gênero feminino, mas ressaltou sua determinação de ser “a presidenta de todos os brasileiros”. Em um discurso de cerca de 40 minutos, a nova presidenta, Dilma Rousseff, mesclou a lembrança de promessas de governo com homenagens e gestos de aproximação com a oposição. A fala ocorreu no plenário da Câmara Federal, onde a nova presidenta e seu vice, Michel Temer, foram empossados para os quatro anos de governo. O discurso foi sóbrio, mas, em dois momentos, a voz de Dilma balançou: quando reforçou o fato de ser a primeira mulher na Presidência do Brasil e ao recordar os companheiros que tombaram na luta contra a ditadura militar.

A cerimônia de posse da nova presidente do Brasil, Dilma Rousseff, acabou tendo boa parte do seu protocolo modificado, devido à forte chuva que caiu sobre Brasília. Entre outras mudanças, o temporal fez com que Dilma desfilasse em carro fechado, ao invés de fazer o trajeto em veículo aberto. Além disso, mudou o ponto de acesso da comitiva presidencial ao Congresso Nacional: ao invés da recepção à presidenta acontecer pela rampa, como de hábito, o acesso acabou ocorrendo pela chapelaria, no andar de baixo. Como Dilma Rousseff é divorciada, sua companhia, durante o trajeto, foi sua filha, Paula.

A chuva, que começou a cair em Brasília, por volta das 14h, foi tão intensa que obrigou Dilma Rousseff a desfilar em um Rolls Royce de teto fechado, indo contra a tradição das cerimônias de posse no Brasil. Escoltando o veículo, estavam seis mulheres, a pé, fazendo a segurança da presidenta. Além delas, 12 batedores da Polícia Rodoviária Federal, 32 do Bope de Brasília, três equipes da Polícia Federal e uma ambulância acompanhavam o deslocamento da presidenta. Pelo caminho, as bandeiras do Brasil e do PT acabavam se destacando ainda mais em meio a um mar de guarda-chuvas. Mesmo com a chuva, as pessoas mantiveram-se à beira do trajeto, acenando e aplaudindo a comitiva presidencial.

José Sarney e Marco Maia recepcionam Dilma

Jane Araújo / Agência Senado
Foto: Jane Araújo / Agência Senado

Na chapelaria do Congresso, Dilma era esperada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB), e pelo da Câmara Federal, o gaúcho Marco Maia (PT), e outras autoridades. Os Dragões da Independência também foram deslocados para o local. Na Praça dos Três Poderes, um grande número de pessoas aguardava que ao menos a saída de Dilma ocorresse pelo local, já que a chuva cessou logo depois da chegada da presidenta ao Congresso.

Entre as autoridades internacionais presentes à posse da presidenta brasileira, estavam Hugo Chávez, presidente da Venezuela; Mahmoud Abbas, presidente da autoridade palestina; José Mujica, presidente do Uruguai; e Fernando Lugo, presidente do Paraguai. Também estavam lá a mãe da presidenta, Dilma Jane Rousseff, e o ex-marido, Carlos Araújo.

Dilma entrou no plenário do Congresso Nacional sob aplausos e gritos de “Dilma, Dilma”. Às 14h50, Dilma Rousseff leu o breve juramento, sob aplausos de todos os presentes. A seguir, o vice-presidente Michel Temer também prestou o compromisso constitucional. Por fim, os presentes ouviram o Hino Nacional, executado pela banda dos Fuzileiros Navais de Brasília.

Sarney: “É com confiança que o Brasil entrega o governo a uma mulher”

Jane de Araújo / Agência Senado
Dilma Rousseff discursa no plenário da Câmara | Foto: Jane de Araújo / Agência Senado

A seguir, Dilma assumiu a palavra em seu primeiro discurso como presidenta. Na sequência, o presidente do Senado, José Sarney, saudou a nova presidenta e disse que um bom governo é aquele que faz “a felicidade do povo, em uma aliança inquebrantável”. Aproveitou para reforçar a eleição de Dilma como uma conquista do gênero feminino no país. “Estamos sendo testemunhas da ascensão e do coroamento da mulher, que chega ao posto mais alto do Brasil com a eleição de Dilma Rousseff”, discursou.

“Expresso o desejo do Congresso em colaborar com vossa excelência. Vivemos um momento de paz social e estabilidade política”, garantiu o presidente do Senado. “Há uma palavra que domina o sentimento de todos os brasileiros nesse momento: confiança. É com confiança que o Brasil entrega seu governo às mãos da primeira mulher presidente do Brasil. Temos certeza de que fará um ótimo governo”, disse Sarney.

Dilma: “Irei honrar as mulheres, proteger os mais fracos e governar para todos”

“Por decisão soberana do povo brasileiro, essa será a primeira vez que a faixa de presidente cingirá o ombro de uma mulher”, disse Dilma na abertura de seu discurso de posse. “Não venho para enaltecer minha biografia, e sim para glorificar a vida de cada mulher brasileira. Irei honrar as mulheres, proteger os mais fracos e governar para todos. Venho para dar consolidar a obra transformadora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um presidente que mudou a forma de governar e levou o povo a confiar em si mesmo. A maior homenagem que posso fazer é ampliar ainda mais as conquistas de seu governo”.

Emocionada, Dilma respirou fundo algumas vezes durante o discurso. E prestou uma homenagem ao vice-presidente de Lula, José Alencar, que não pôde comparecer à cerimônia por motivos de saúde. “Um grande homem, que nos dá exemplo de coragem e amor à vida. Ele e Lula fizeram uma grande parceria em nome do Brasil”, saudou, desejando também ter uma relação semelhante com seu próprio vice, Michel Temer (PMDB-SP).

Marcello Casal Jr. / ABr
Foto: Marcello Casal Jr. / ABr

Dirigindo-se à população como “queridos brasileiros e queridas brasileiras”, assegurou que o Brasil pode ser um país “ainda mais desenvolvido e justo”. “Precisamos eliminar as travas que ainda inibem nossa economia, apoiando o agronegócio e a agricultura familiar, além de incentivar o espírito empreendedor do nosso povo”, disse Dilma. Prometeu uma política tributária diferenciada, além da adoção de um modelo de desenvolvimento que valorize as instâncias regionais.

Durante boa parte do discurso de posse, Dilma reforçou promessas de campanha. Citou, entre suas prioridades, a saúde, segurança e educação. “Os professores e professoras devem ser tratados como as verdadeiras autoridades da educação. Só com essa valorização poderemos preparar os jovens para a sociedade da tecnologia e do conhecimento”, afirmou. E declarou sua intenção de intensificar o combate à fome e à pobreza. “A luta mais obstinada do meu mandato será pela erradicação da pobreza extrema. O congraçamento das famílias se dá assim, no alimento, na paz e na alegria. É um sonho que vou perseguir, e um compromisso a ser abraçado por toda a sociedade”, assegurou, sob aplausos.

“Pretendo mostrar ao Brasil e ao mundo que é possível um país crescer de forma acelerada respeitando o meio ambiente. Meu esforço será em fazer do Brasil um líder mundial no uso de energias limpas”, garantiu Dilma, tocando em pontos defendidos pela concorrente Marina Silva (PV) durante a eleição presidencial. Ainda assim, exaltou os progressos que poderão advir da exploração do pré-sal. “A melhor parcela desta riqueza será transformada em recursos públicos. Recusaremos gastos apressados”, garantiu.

“Dediquei minha vida à causa do Brasil”

Marcello Casal Jr. / ABr
Foto: Marcello Casal Jr. / ABr

Em outro momento, Dilma conclamou todas as classes sociais para um esforço coletivo em nome do progresso brasileiro. “O Brasil do futuro será do tamanho do que, juntos, fizermos por ele. Quero convocar todos a um esforço de transformação”, disse Dilma. E ensaiou uma aproximação com setores que se opuseram a ela, especialmente durante a campanha eleitoral. “Mais uma vez estendo minha mão aos partidos de oposição e as parcelas da sociedade que não estiveram conosco na recente jornada eleitoral”, declarou.

“Reafirmo que prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras. Quem, como eu e outros tantos da minha geração, lutou contra a ditadura, será sempre amante da liberdade e defensor dos direitos humanos”, lembrou, reafirmando seu compromisso com a liberdade de imprensa e de opinião. “Não haverá, no meu governo, favorecimentos ou compadrios. A partir deste momento, sou presidenta de todos os brasileiros. A corrupção será combatida incansavelmente, e toda investigação terá o meu respaldo total.”

Ao final do discurso, a voz de Dilma embargou, tomada pela emoção. Ao lembrar de seus companheiros de luta contra a ditadura militar, a Presidenta do Brasil não poupou as palavras. “Dediquei minha vida à causa do Brasil. Entreguei minha juventude a isso, suportei as adversidades mais extremas, e não tenho arrependimentos, ressentimento ou rancor. Muitos tombaram pelo caminho e não podem compartilhar a alegria deste momento. A eles, rendo minha homenagem”, disse, segurando as lágrimas.

Leia aqui a íntegra do discurso de Dilma Rousseff no Congresso.


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