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10 de janeiro de 2011
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17:00

Afonso Motta acredita que o PDT pode crescer e manter Fortunati na prefeitura da Capital

Por
Sul 21
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Bruno Alencastro/Sul21
Afonso Motta / Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Rachel Duarte

Depois de 23 anos como executivo do maior grupo de comunicação do Rio Grande do Sul, Afonso Motta, um dos fundadores do PDT, agora é secretário de um governo do PT. Concorrendo à Câmara Federal, em 2010, não se elegeu e foi indicado por seu partido a integrar a administração Tarso Genro. Há cinco dias no comando do Gabinete dos Prefeitos, o alegretense conversou com o Sul21 sobre a sua opção de integrar o segundo governo petista gaúcho, as expectativas políticas com o trabalho no núcleo do governo e sobre a futura relação com os 496 prefeitos gaúchos.

Afonso Motta é advogado e produtor rural. Trabalhou em diversas funções no Grupo RBS, sendo o idealizador do Canal Rural. Presidiu a Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (AGERT-RS), foi conselheiro da OAB e é um dos conselheiros do Sport Club Internacional.

Na política gaúcha, Motta prevê um crescimento do PDT, que deverá aproveitar a oportunidade de fazer parte do o governo do estado. O secretário disse que a intenção do PDT é trabalhar para manter o prefeito José Fortunati na Prefeitura de Porto Alegre, nas eleições municipais de 2012.

Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

“A nossa prioridade neste momento é a estruturação da secretaria”

Sul21 – Como será a sua atuação com os prefeitos? Qual será o foco do seu trabalho do Gabinete dos Prefeitos?
Afonso Motta (AM
) – A secretaria é nova, mas tem uma dinâmica. A realidade é que são 496 prefeitos num estado que tem um processo permanente de relação institucional e já há um conjunto de reivindicações solicitadas ao governo anterior. Já estamos atendendo alguns prefeitos. Agora mesmo (manhã de quarta-feira, 5), saiu daqui o prefeito de Taquara. Desde segunda, estou recebendo vários prefeitos do estado que estão querendo compreender o funcionamento da secretaria, se colocar à disposição para ajudar no trabalho e, também, informar sobre os seus pleitos. Há um direcionamento no sentido de que nós valorizemos as relações institucionais e encaminhemos as demandas dos prefeitos.

Sul21 – Quais as demandas prioritárias? A carta de reivindicações da Famurs (Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul) também será prioridade?
AM
– A nossa prioridade neste momento é a estruturação da secretaria. Estamos trabalhando com três focos: um relacionado com projetos e programas. Vamos ter um banco de dados, com informações sobre todos os projetos de âmbito federal que são acessíveis aos prefeitos. Também queremos tratar destas questões que estão pendentes internamente, oriundas da extinta Secretaria de Relações Institucionais. Estamos fazendo uma espécie de inventário disso e tomando pé desta situação. Queremos criar um conjunto de procedimentos que otimizem os resultados da gestão dos municípios. O RS não vem obtendo o mesmo volume de recursos que outros estados que já têm uma secretaria que articula a relação com os municípios. E nós queremos recuperar esse espaço. Vamos trabalhar muito nas relações federativas. Apoiar o encaminhamento das questões dos prefeitos em Brasília. Vamos preparar a agenda dos prefeitos em Brasília. Queremos trabalhar com a Famurs na formação dos gestores municipais.

Passa pelo nosso encaminhamento a relação com os Coredes e a dinâmica política dos prefeitos com o governo do estado. Queremos qualificar isso. Ainda estamos no começo do governo e não temos a dinâmica desse trabalho.

Gostaria de receber todos os prefeitos hoje e já levá-los para conhecer a chefia de gabinete do governador, mas, ainda não temos essa capacidade de fluxo. A essência é fazer esta construção. Em 15 dias vamos poder responder e ter um bom planejamento do trabalho.

Sul21 – Como será a estrutura da sua secretaria e o tamanho da equipe?
AM
– Para cada um dos focos do nosso trabalho teremos coordenadores, que são os cargos dos antigos diretores (da secretaria de Relações Intitucionais). Temos um chefe de gabinete que é o Lino Furtado e três coordenadores. Abaixo destes coordenadores teremos um corpo técnico. Serão profissionais que já têm experiência nas relações institucionais, no desenvolvimento e formação de gestores públicos e que nos ajudarão a formular os nossos projetos e ações. Temos parte da equipe definida e que está ocupando a estrutura física da antiga secretaria de Relações Institucionais, no Centro Administrativo, e estamos analisando quais os cargos comissionados que estão lotados nesta pasta e que poderemos aproveitar. Esta análise está sendo feita por dois ex-prefeitos, que já vinham encaminhando a montagem da equipe. Nós imaginamos, mas ainda não é certo, que teremos nosso trabalho dividido. Parte da secretaria ficará aqui (Palácio) e a outra no Centro Administrativo, possivelmente na sala da extinta secretaria de Relações Institucionais. No Palácio, ficará a parte mais simbólica da secretaria, para receber os prefeitos e encaminhar as demandas. Será o gabinete do secretário. Nossa proximidade com o gabinete do governador também é uma orientação que tivemos para que possamos dialogar com o núcleo do governo e algumas áreas estratégicas.

Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

“O conceito (da transversalidade) não é ter integrantes de todos os partidos dentro das secretarias”

Sul21 – Como está a visão do PDT sobre o conceito da transversalidade?
AM
– Vejo este conceito com tranquilidade. A tranversalidade não é só a consolidação da composição do governo. O conceito não é ter integrantes de todos os partidos dentro das secretarias. A transversalidade é um processo de construção de ativos que possam ser agregados numa visão ampla dentro do campo econômico, com agregação de valor; no ponto de vista social, ampliar o trabalho social, e no ponto de vista político, ter capacidade de articulação política. Isso é transversalidade. A base da transversalidade não é eu ter um representante do PT dentro da minha sala. Não é isso. Isso é uma construção precária e limitada do que significa a gestão transversal. Se pensarmos assim não estaremos valorizando este conceito como ele tem que ser.

Sul21 – Mas há uma contradição ou uma falta de senso coletivo sobre esse tema, pois o PDT é um dos partidos que mais reivindica espaços na montagem do segundo escalão e mesmo na composição do secretariado.
AM
– Não tem relação com a transversalidade o posicionamento do PDT. O nosso argumento é ampliar o espaço político. Exigir a ocupação de espaços políticos é legítimo, por parte de qualquer partido. O PSB também reivindicou porque acha que tem que aumentar o seu espaço. O próprio PT tem correntes que querem aumentar o seu espaço. Penso que a maneira como está sendo tratado o posicionamento do PDT, através de declarações de algumas lideranças, de forma um pouco mais forte, não significa, sob hipótese alguma, que o PDT ameaça sair do governo ou que vá virar a mesa. Não. Ele está exercitando o que é legítimo, uma vez que foi feito o convite e a base decidiu democraticamente por participar do governo. Queremos ocupar o maior espaço possível. Nós teremos este papel aqui. Nós, que estamos ocupando cargos, temos também a responsabilidade de colocar a visão do partido dentro das discussões internas do governo. Valorizaremos ao máximo o nosso partido. Essa é a orientação que estamos dando, inclusive, para os prefeitos do PDT que vêm até aqui.


Sul21 – O PDT e o PTB não estiveram na coligação Unidade Popular pelo Rio Grande e, mesmo assim, têm três secretarias no primeiro escalão cada, ao contrário dos partidos que estiveram na coligação, como o PCdoB e o PSB.
AM
– Nós não temos mais cargos. A compensação ainda não está completa e eu ainda não fiz esta conta. Mas, pode ser sim.

O desejo de ter maioria na Assembleia influencia na demarcação de espaço dos partidos no governo

Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Sul21 – O PSB, por exemplo, que é o partido do vice-governador, está reivindicando mais espaço. Qual a sua avaliação sobre os critérios da composição feita pelo governador Tarso Genro?
AM
– Tem uma lógica que está influenciando nesta demarcação de espaço: a maioria na Assembleia Legislativa. Esta será uma das questões que darão maior sustentabilidade ao governo: a representação parlamentar na Assembleia. Isso vai garantir a aprovação dos projetos do governo e de grandes desafios que estão propostos ao governo do estado. A questão não é simples. Há uma lógica política e de governo que tem que ser compreendida. Evidente que há casos de partidos com apenas um deputado estadual, que participou da coalizão. Mas no espectro geral tem uma representatividade. Um partido como o PDT, que tem sete deputados estaduais, tem influência e precisa ser contemplado de forma que estes deputados tenham conforto político. Coloco essa lógica com toda a transparência.

Sul21 – Os últimos governos estaduais também tiveram maioria na Assembleia e não tiveram tanto êxito, especialmente a última gestão. Como o senhor estima que será a relação do atual governo com os parlamentares?
AM
– Se tu lembrares o que ocorreu há 14 anos, quando o PT assumiu o governo, uma das questões, que levaram a gestão Olívio Dutra a sucessivas derrotas, foi a falta de consenso com os partidos. Não ter a maioria. A gente sabe que se não houver uma construção de imaginário, ou ficar nessa ideologização que fez o primeiro governo do PT, tu fica isolado e não consegue fazer nenhuma articulação. O que surge neste momento, e de forma muito positiva, e não falo só da aprovação do Tarso em primeiro turno, é um cenário novo. Digo isso com base na aprovação dos primeiros projetos do governo. E este da reestruturação dos cargos só está em discussão porque é uma época ruim, de recesso. Mas, todos os projetos estão com boas perspectivas de aprovação. A oposição tem um ou outro ponto, mas, que não ganha corpo.

Sul21 – Existe uma pretensão do governador em propor alguma mudança na Constituição ao longo do mandato?
AM
– Agora, isso não está na pauta. A meta agora é fazer a reestruturação do governo, tratar das questões que comprometem politicamente o governo e que foram herdadas do governo anterior. A equalização fiscal do governo. Não será fácil para um governo como o do estado do Rio Grande do Sul, que tem uma dívida com a União e não está com o equilibrio fiscal que o último governo valorizou em um marketing pesado (fazer esta equalização). Tem questões que foram assumidas (pelo governo anterior) que estão muito além da realidade das finanças do estado. Tudo isso será enfrentado agora. O governador está medindo cautelosamente estas questões. Não podemos imaginar que administrar isso não trará desgastes ao nosso governo. Haverá alguns prejuízos para a imagem do nosso governo, porque algumas questões poderão fugir da compreensão da população diante de promessas que foram firmadas anteriormente.

“Pretendo trabalhar dentro da visão de rompimento de preconceitos”

Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Sul21 – O senhor falou no primeiro governo do PT, o do governador Olívio Dutra. Agora, com a construção feita pelo governador Tarso Genro, desde a campanha, com a mudança de estratégia para vencer o antipetismo — ainda forte no estado –, como será a relação da sociedade com este novo governo petista e as cobranças que fará?
AM
– Tem pesquisas recentes que apontam que há uma expectativa muito alta em relação ao êxito deste governo. Represento uma região (Fronteira Oeste) que tradicionalmente é antipetista. E, como o político mais votado nesta região, pretendo trabalhar lá dentro desta visão de rompimento de preconceitos. Mostrar que este governo de coalizão irá valorizar princípios que não são exclusivos do PT: o senso de justiça, a distribuição de renda, a valorização dos segmentos menos incluídos, os programas de natureza social e a busca pelo desenvolvimento. Eu não estaria no governo se estes princípios não fossem bons para o estado, e nós (PDT) vamos valorizar isso. O governador tem uma capacidade extraordinária de convencimento e articulação, está com respaldo, por ter vencido no primeiro turno. E o aprendizado do partido possibilita outro momento. O governo Olívio iniciou em outro tom. Lembro da bandeira de Cuba fincada na sacada do Palácio Piratini. Foram militantes que colocaram, mas não houve um agente político que impedisse o ato. Então, neste sentido, o governo Tarso não tem nenhuma ação que incite o antipetismo. São gestos de ampliação, renovação, de postura republicana.

Sul21 – O senhor concorda que há uma mudança na conjuntura nacional? E que esta mudança motiva uma evolução na cultura dos partidos no Brasil?
AM
– O Rio Grande do Sul sempre foi contrário à linha do governo federal e, nos últimos anos, veio perdendo representatividade e oportunidades nacionais. Perdeu por falta de prioridade na política pública, falta de articulação política, falta de lideranças que conquistassem espaço nacional. No caso do PDT, o Brizola morreu. Quem é o grande líder nacional do PDT ou do PMDB? O Michel Temer é o vice, mas não é alinhado com a visão do PMDB do Rio Grande do Sul. Mesmo porque a hegemonia do estado nunca foi do PT. Agora, com o alinhamento dos governos estadual e nacional, isto tende a mudar. A própria presidente pode ser considerada gaúcha. A falta de lideranças foi ruim para o RS.

“O trabalhismo precisa ser valorizado. Isto não está acontecendo hoje”

Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Sul21 – E sobre o futuro do PDT no RS nos próximos dois anos. Como será, agora, com o partido fazendo parte do governo petista no estado?
AM
– Queremos organizar o nosso partido. Acreditamos que o trabalhismo precisa ser valorizado, o que não está ocorrendo hoje nem na Academia. Mas, o PDT está plenamente habilitado para o debate global do novo poder do estado. Mesmo porque nós sempre tivemos contribuições importantes na história política gaúcha. Precisamos recuperar isso e buscar a nossa legitimação política. Fomos mal no processo eleitoral e acabamos indo junto na onda que consagrou o governo Tarso. E estamos com os demais partidos que ajudaram a eleger o candidato que a sociedade escolheu, mas temos todas as possibilidades de reconstruir o PDT.

Sul21 – A intenção é de lançar José Fortunati à reeleição?
AM
– Vamos fazer um grande esforço eleitoral neste sentido. Vamos tentar nos manter na prefeitura de Porto Alegre. Agora, vamos trabalhar nesta frente, nesta coalizão. Será nosso caminho. Não tem nada definido, mas, se estamos no governo, estamos pensando politicamente.

Sul21 – Nos últimos três anos — de um total de 18 atuando no grupo RBS — o senhor ocupou uma das vice-presidências do grupo. Agora, está numa função de primeiro escalão do governo do PT. E como gestor estadual qual será sua relação com o principal grupo de comunicação do estado?
AM
– Nunca ocupei nenhum espaço público, apesar de minha família ocupar espaços políticos em Alegrete. Meu pai foi prefeito, tenho um tio deputado. Sou um dos fundadores do PDT e sempre fui filiado, mesmo trabalhando na RBS. Mas, nunca quis ocupar nenhum cargo público. E em um determinado momento da minha vida, por idealismo, resolvi me dedicar a uma carreira pública. Estou aqui por idealismo. Não fosse isso, eu não abriria mão do cargo que conquistei dentro do Grupo RBS, o de vice-presidente. A negociação para minha liberação da RBS durou quatro anos. Me liberei e fiz. Estava convicto que iria me eleger deputado. Fiz uma grande votação, 72 mil votos, conquistados pela minha relação com a minha região. E me decidi por integrar o governo em razão desta expectativa dos eleitores que votaram em mim. Agora posso dar resposta (aos eleitores). Minha relação com a mídia não tem limites. Não tenho nenhum constrangimento, de nenhuma ordem. Sempre tive uma relação ética dentro da RBS. Nunca me vali da minha posição para fazer gestão ou obter qualquer tipo de vantagem pessoal. Vou procurar contribuir com a comunicação do governo, por meio dos princípios que aprendi sobre comunicação ao longo da minha trajetória.

“Acho fundamental beneficiar também a imprensa alternativa”

Bruno Alencastro/Sul21
Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Sul21 – Como o senhor avalia a visão do governo que o senhor integra, que propõe um programa de políticas públicas para a comunicação, que irá beneficiar também a imprensa alternativa?
AM
– Acho fundamental. Nós temos que equilibrar a comunicação. A audiência é importante. Aprendi isso e sei que conta muito. Mas, às vezes, o conteúdo qualificado, que é produzido por quem tem uma pequena audiência, repercute e pode conquistar audiência total. Tem que haver oportunidade igualitária e uma sensibilidade para esta compreensão. A minha postura como gestor não terá nenhuma falta de conduta, desatenção ou falta de consideração com ninguém.

Sul21 – Para finalizar, uma perguntinha mais descontraída ao senhor que é Conselheiro do Internacional. Está muito frustrado com o episódio em Abu Dhabi?
AM
– O Internacional errou em um ponto que é essencial no futebol gaúcho: jogar com alma. Eles foram para uma disputa mundial com apenas uma visão técnica e calculista. Isso muitas vezes não funciona no futebol. Não funcionou com a Seleção Brasileira na Copa do Mundo. Iria funcionar com o Internacional? Houve um equívoco.


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