Na carona de Beto e Manuela, PSB e PCdoB crescem no RS

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Na carona de Beto e Manuela, PSB e PCdoB crescem no RS
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Igor Natusch

Enquanto alguns candidatos sofreram desagradáveis surpresas em 3 de outubro, a mensagem das urnas deu, para alguns outros, bons motivos para comemorar. Na votação proporcional, dois em especial saíram com resultados marcantes: Manuela D’Ávila (PCdoB) e Beto Albuquerque (PSB), as duas maiores votações para deputado federal no RS. Os altos índices acabaram impulsionando os dois partidos, que aumentaram suas bancadas e ampliaram sua relevância no cenário gaúcho e nacional. Mas o que é positivo pode tornar-se um problema: sendo os maiores nomes de seus partidos no RS, ambos podem se tornar mais fortes do que as próprias siglas, gerando dúvidas sobre a firmeza dos alicerces no qual essas legendas gaúchas se sustentam.

O crescimento de PSB e PCdoB torna-se mais visível quando fazemos uma análise dos números conquistados pelos dois partidos em 3 de outubro. Manuela D’Ávila foi a deputada federal mais votada do RS, e a quarta do Brasil, com 482.590 votos – 200 mil a mais do que a própria Manuela havia feito em 2006, quando também foi a mais votada para a Câmara. Com essa votação, Manuela garantiu uma segunda cadeira para o PCdoB – Assis Melo, vereador de Caxias do Sul e eleito deputado com menos de 50 mil votos.

O crescimento de Beto Albuquerque também foi significativo: dos 174.774 votos obtidos em 2006, o deputado saltou para mais de 200 mil, sendo o segundo mais votado na eleição proporcional. Com os resultados da coligação, outros dois candidatos do PSB garantiram vagas na Câmara federal: José Luis Stedile (41.401) e Alexandre Roso (28.236). Somados, ambos não chegam à metade dos votos de Beto Albuquerque.

A bancada do PSB na Assembleia também cresceu. O partido reelegeu Heitor Schuch (66.591) e Miki Breier (35.457), e acrescentou um terceiro nome: Catarina, ou Jose Antonio Junior Frozza Paladini, eleito com pouco mais de 32 mil votos. O PCdoB, por sua vez, manteve Raul Carrion, reeleito com 34.791 votos – menos do que os 41.549 de 2006, mas o suficiente para garantir a permanência na Assembleia. A própria votação de Abgail Pereira na corrida para o senado (1.551.151 votos) surpreende, especialmente para uma candidata pouco conhecida até então.

Vinculação ao novo

“Tanto Beto quanto Manuela são quadros com trajetórias políticas significativas. O Beto Albuquerque, inclusive, foi vice-líder do Governo Lula”, lembra Caleb de Oliveira, presidente do PSB gaúcho. Animado com os resultados de 3 de outubro, Caleb atribui o crescimento a uma estratégia eficiente da coligação, além do diálogo permanente com a comunidade. “Os dois partidos (PSB e PCdoB) têm um relacionamento político de longa data, essa votação consagradora dos dois candidatos é uma prova disso”, garante.

Assis Melo, eleito junto com Manuela como deputado federal do PCdoB, exalta as qualidades de sua colega de legenda. “Ela é a grande expressão de uma política do partido, de mobilização do eleitorado e de vinculação ao novo. A votação dela mostra claramente que a proposta dela, que também é a nossa, traz novidades para o cenário político do RS e do Brasil”. Caleb de Oliveira concorda. “Nós (PSB e PCdoB) mantemos sempre nossa maneira de pensar, continuamos sendo opções de esquerda, mas sem medo de buscar formas modernas de governar”, comemora.

Para o cientista político Rodrigo Gonzalez, professor da UFRGS, Beto Albuquerque e Manuela eram nomes que já tinham exposição no cenário político do estado. “Beto foi muito falado na mídia como um possível pré-candidato ao governo, enquanto Manuela conseguiu muita visibilidade quando concorreu à prefeitura de Porto Alegre (em 2008). Além do mais, ambos são da base de apoio do governo federal, e acabam também se associando ao bom momento do governo Lula”. No caso do PSB, Gonzalez aponta também um crescimento nacional, que dá ainda mais respaldo ao partido no RS. “É um partido que está passando de pequeno para médio porte, graças a bons resultados no nordeste e a um bom relacionamento com o governo Lula. A votação de Beto Albuquerque encaixa nessa tendência”, afirma.

Personalização

Apesar do clima de alegria com os bons resultados, os cientistas políticos ouvidos pelo Sul21 advertem para a possibilidade de uma personalização desses votos, que seriam perdidos caso Beto ou Manuela deixassem seus respectivos partidos. “O perigo existe”, adverte Rodrigo Gonzalez. Como exemplo, cita o PTB, que sentiu o impacto da ausência de Sérgio Zambiasi na corrida eleitoral.

“Uma situação dessas pode ser problemática para partidos sem renovação, com uma ideologia fraca. Não é o nosso caso”, afirma Caleb de Oliveira, do PSB. “Eu mesmo fui candidato a governador em 2002, o Beto Grill concorreu em 2006, e agora o próprio Beto (Grill) foi eleito vice do Tarso Genro (PT).O Beto Albuquerque mesmo, está no sexto mandato consecutivo como deputado estadual ou federal . Além do mais, o PSB é um partido que cresce muito em todo o país. É natural que tudo isso se reflita em um espaço maior do partido na política gaúcha. Claro que a votação do Beto Albuquerque nos impulsiona, mas não vejo como isso possa ser um problema”, garante.

O cientista político da PUCRS, Rafael Madeira, levanta algumas questões que, embora não desmintam a possibilidade, colocam em dúvida a sua concretização, pelo menos em um futuro próximo. “A votação recorde da Manuela é sim fruto de uma capital pessoal, mas também tem muito a ver com uma estratégia do partido. O PCdoB inteiro fez campanha para ela, especialmente na primeira eleição para deputada federal”, lembra.

Embora admita que a saída dela do partido poderia ser um revés para o PCdoB, Madeira vê como pouco provável uma decisão nesse sentido. “A Manuela não é totalmente independente do partido, mesmo porque ela dificilmente teria, em outro lugar, uma máquina partidária tão abertamente a seu favor. Ela não teria um espaço semelhante se entrasse no PT, por exemplo”, diz Rafael Madeira.

“A Manuela encontrou um nicho no qual encaixou muito bem, o da juventude na política. Mas é um espaço que não é permanente, e pode ser ocupado por outras pessoas no futuro”, adverte Rodrigo Gonzalez. “Uma troca de partido faria com que ela perdesse prestígio em um partido que trabalha muito a favor dela. Além de, é claro, fazer com que ela perca o mandato”. Esse detalhe, para Gonzalez, é bastante importante. “A votação individual de Manuela chama atenção, mas no fim das contas o mandato é do PCdoB, e não dela. O voto dela tem o mesmo peso do Assis Melo, então acaba sendo uma conquista do partido também”, ressalta.

PSOL perde espaço

O sucesso desses partidos acaba levantando outras questões, além de uma comparação inevitável com o PSOL. O partido, que assumiu durante algum tempo a posição de vanguarda na esquerda brasileira, teve desempenho muito abaixo do esperado no RS. Não apenas sofreu um revés com Pedro Ruas – apenas o quinto colocado na eleição para governador, com menos de 40 mil votos – como ficou sem representação na Assembleia e na Câmara Federal. Luciana Genro, apesar da boa votação (129.501 votos), não conseguiu reeleição como deputada federal.

Para o cientista político da PUC, Rafael Madeira, Luciana Genro tem uma carreira tão significativa quanto a de Manuela e Beto, mas sofreu com a postura crítica adotada pelo partido na esfera federal. “O discurso do PSOL não encontrou eco junto ao eleitor”, afirmou. “Tentaram ser o espaço para um voto de protesto, enquanto o contexto mostra que o eleitorado está optando por um discurso mais moderado. As críticas podem até ter fundamento, mas acabam tendo pouco impacto, especialmente levando em conta o céu de brigadeiro no horizonte do governo Lula”.

Rodrigo Gonzalez é ainda mais incisivo. “A opção de não fazer alianças acabou enfraquecendo o partido. O PCdoB, por exemplo, tem uma estratégia muito clara no sentido de fazer alianças que aumentem seu espectro político. Se o PSOL estivesse em coligação com algum outro partido, Luciana Genro teria sido eleita”, assegura. Gonzalez lembra que essa derrota terá reflexos diretos na próxima campanha, já que influenciará decisivamente no horário eleitoral gratuito. “O PSOL se torna, inclusive, um possível candidato a fusão com algum outro partido”, prevê.

Em outro sentido, os cientistas políticos consultados pelo Sul21 encaram com reservas a possibilidade de crescimento efetivo do PV estadual, mesmo com a votação relativamente boa de Montserrat Martins, candidato verde ao Piratini. Rodrigo Gonzalez admite que a posição do PV, à frente do próprio PSOL, foi uma surpresa – mas aponta a grande diferença dos votos de Montserrat para a votação de Marina Silva (PV) no estado. “Mesmo com a força da imagem de Marina, a transferência de votos foi bastante pequena. Acho muito difícil falar de crescimento do PV gaúcho, já que a sua votação foi claramente vinculada à pessoa de Marina, e mesmo assim foi pouco significativa”, acrescenta.

Assis Melo, eleito deputado federal pelo PCdoB, comemora os avanços do partido, e acredita que a participação no governo de Tarso Genro consolidará o quadro de crescimento estadual da sigla. “Temos um compromisso a assumir, que é o de ocupar espaços e oferecer apoio ao governo de Tarso Genro”. Caleb de Oliveira, do PSB, reforça a visão de Assis. “Todo partido quer protagonismo, é claro. Mas o Rio Grande vive um momento especial, com o retorno da esquerda ao governo estadual. Vamos colaborar com nossos quadros e nossa experiência para que seja o melhor governo possível”.


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