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14 de setembro de 2010
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09:00

Um Congresso menos oposicionista

Por
Sul 21
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Felipe Prestes

Faltando vinte dias para as eleições é cedo para garantir os resultados da eleição. Mas as mesmas pesquisas que apontam ampla vantagem da candidata do PT, Dilma Rousseff, também apontam que sua vitória pode ser acompanhada de um Congresso mais governista do que teve o presidente Lula. Isso pode ser sentido nas pesquisas que apontam as intenções de voto para o Senado ao redor do Brasil. Para a Câmara, não há pesquisas. Mas, segundo especialistas, PMDB e PT devem manter as maiores bancadas. A vitória no Senado, contudo, será um grande trunfo para os governistas. Durante o governo Lula, a Casa foi o grande reduto de democratas e tucanos, capazes de impor grandes derrotas ao governo como o fim da CPMF.

“O Governo não conseguiu no Senado o mesmo apoio que teve na Câmara. Sempre foi uma Casa que deu mais dificuldade”, afirma Rudolfo Lago, editor executivo do site Congresso em Foco. Lago cita a CPMF como a maior derrota do governo e lembra a crise gerada no Senado depois que o governo se viu obrigado a apoiar José Sarney à presidência da Casa, em detrimento do petista Tião Viana. Com Sarney como presidente, a oposição trouxe à tona os atos secretos. “Os atos secretos geraram muito problema, dificultou muito a realização de votações. Durante aquele período, Sarney era o senador mais faltoso, porque sempre havia protestos, e senadores usando a palavra para pedir sua saída”.
Em 2011, isso pode mudar. O atual pleito move dois terços do Senado e as pesquisas indicam que a “onda vermelha” é realidade. No atual Senado, os partidos que apoiam a coligação de Dilma Rousseff somam 41 senadores. Esse número pode chegar até 60 senadores em uma projeção otimista para o possível governo. Com mais de dois terços do Senado é possível realizar até mesmo alterações na Constituição.

Mas essa maioria, na prática, não seria tão avassaladora porque há senadores do PMDB que adotam postura independente, caso do gaúcho Pedro Simon. A postura de outros prováveis eleitos, como os gaúchos Germano Rigotto (PMDB) e Ana Amélia Lemos (PP), também seria incerta. O peemedebista Garibaldi Alves Filho, que deve se eleger senador pelo Rio Grande do Norte, é notório oposicionista.

O presidente do PT gaúcho, Raul Pont, é cético quanto à conquista de uma maioria sólida no Congresso. “A possibilidade é melhor que a de 2006, mas a Dilma vai ter que construir a governabilidade”. Embora PT e PMDB devam ter as maiores bancadas, Pont não acredita que haverá uma unidade em relação aos atos de governo. Pont critica o sistema eleitoral. “O voto do Legislativo é nominal, tem financiamento privado, distorce o resultado. Há a pulverização do voto em partidos que são balcões de negócios”.

Salto alto

Opinião semelhante tem o cientista político David Fleischer, da UnB: “A Dilma vai ter problemas com o PMDB. O PMDB vai ficar de salto alto com a vice-presidência e maiorias no Senado e na Câmara”, afirma. Para o cientista, o governo continuará tendo dificuldade para realizar reformas, embora com maior possibilidade de realizá-las. “A reforma política já foi derrotada três vezes. É difícil. Outras reformas, como a tributária, são possíveis”.

Mesmo com senadores em cima do muro, ou dissidentes, as perspectivas continuam sendo boas para o governo. Há a possibilidade real de que grandes líderes da oposição não retornem ao Senado. No Piauí, Heráclito Fortes (DEM) aparece em terceiro nas pesquisas. Em Pernambuco, quem pode perder sua vaga é Marco Maciel (DEM), que, segundo o Datafolha, aparece em segundo lugar a apenas dois pontos percentuais de Armando Monteiro – que apesar de ser do PTB apoiou o governo Lula como deputado federal. A campanha de outro ferrenho opositor do governo não decolou: o deputado federal Raul Jungmann (PPS) está em quarto lugar e tem apenas 13% das intenções de voto dos pernambucanos ao Senado.

No Rio Grande do Norte, José Agripino Maia (DEM) aparece na segunda colocação. Ele pode perder sua vaga para Vilma de Faria (PSB), que na última pesquisa Ibope (divulgada no dia 19 de agosto) aparecia oito pontos percentuais atrás do democrata. No Amazonas, Artur Virgílio, um dos senadores que mais fez oposição ao governo, não consegue reeleição de acordo com pesquisa divulgada pelo Ibope nesta segunda-feira (13/9). Virgílio (34%) está cinco pontos percentuais atrás de Vanessa Grazziotin (39%), do PC do B, enquanto o ex-governador Eduardo Braga (PMDB) está disparado com 80%. Na Paraíba, o senador Efraim Morais vê o candidato Vitalzinho (PMDB) ultrapassá-lo.

O estado onde a oposição tem mais tranquilidade é Goiás: Demóstenes Torres (DEM) e Lúcia Vânia (PSDB) lideram com folga as pesquisas. No Ceará, um dos grandes líderes da oposição no Senado, Tasso Jereissati (PSDB) deve se reeleger com facilidade. Nessa conjuntura, o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB) – que aparece com 67% das intenções de voto, segundo o Datafolha – deve surgir como grande liderança de oposição no Senado. Mas vai depender de sua disposição em ser contrário ao governo.

Onda Vermelha

Além de afastar lideranças da oposição no Senado, o governo pode comemorar o crescimento de candidaturas mais alinhadas ideologicamente com o partido de Lula e Dilma Rousseff. Candidatos de partidos, como PMDB e PR, que podem não se afinar totalmente com o governo, ou de oposição, tem cedido espaço a candidaturas de partidos como PC do B, PSB e do próprio PT. “O crescimento de Dilma nas pesquisas já está alavancando outros candidatos. Parece que tem mesmo uma onda vermelha”, diz Rudolfo Lago.

É o que mostra pesquisa realizada pelo Datafolha nos principais estados do país e divulgada na última sexta-feira (10/9). Nela constata-se que Lindberg Farias (PT) pode neutralizar o surgimento de César Maia como líder oposicionista no Senado. Lindberg subiu doze pontos em relação ao final do mês passado e foi a 36%, enquanto Maia caiu três pontos e foi para 29%. Marcelo Crivella (PRB) lidera com 40%.

Em São Paulo, a retirada da candidatura de Orestes Quércia (PMDB) não beneficiou a oposição. Netinho (PC do B) cresceu oito pontos na última semana e lidera com 36%. Ele deve fazer dobradinha com Marta Suplicy (PT), que cresceu dois pontos e tem 35%. Romeu Tuma (PTB) cresceu seis pontos, mas tem apenas 21%. E Aloysio Nunes, do PSDB, cresceu quatro pontos, mas tem só 16%.

No Distrito Federal, o candidato Rodrigo Rollemberg, do PSB, teve crescimento de dez pontos, chegando a 40% e se consolidando na segunda posição. Isso porque a candidata Maria de Lourdes Abadia, do PSDB, oscilou de 27% para 24%. Rollemberg deve chegar ao Senado junto com Cristovam Buarque (PDT), que aparece com 50% das intenções de voto. Na Bahia, o afilhado político de ACM e ex-democrata César Borges (PR) lidera com 31%, mas assiste à chegada de uma socialista e de um petista. Lídice (PSB) subiu seis pontos percentuais e tem 28%. Walter Pinheiro (PT) cresceu cinco pontos e chega a 26%. No Paraná, Gleise Hoffmann (PT) se mantém firme com a segunda vaga (a primeira é de Roberto Requião, do PMDB). A petista subiu quatro pontos e chegou a 41%. Gustavo Fruet (PSDB) subiu seis, mas tem apenas 22%.

Oposição com qualidade

O deputado federal Cláudio Diaz, presidente do PSDB do RS, é otimista quanto ao crescimento da oposição. Diaz acredita que seu partido pode fazer mais onze senadores, o que aumentaria sua bancada de 16 para 17 senadores. Para tanto, confia no crescimento das candidaturas de Aloysio, em São Paulo, Gustavo Fruet, no Paraná, e Rita Camata, no Espírito Santo.

O tucano também acredita em aumento da bancada de seu partido na Câmara dos Deputados, embora admita que esse aumento não deva passar pelo Rio Grande do Sul. “Assim como eles têm a possibilidade, nós também temos. Aqui nós não vamos crescer, mas em São Paulo, vamos manter ou crescer; em Minas, vamos manter ou crescer. No Paraná, vamos crescer; no Espírito Santo, vamos crescer. No mínimo, a mesma bancada nós teremos”, afirma.

Para o parlamentar, contudo, o mais importante – caso Dilma Rousseff vença, faz questão de ressaltar – é que a oposição seja “aguerrida”. “A oposição não se avalia pela quantidade, mas pela qualidade”, garante. Para Diaz, no atual período de quatro anos, a oposição foi “frouxa”, e é preciso mudar isso mais do que manter ou aumentar sua bancada. “Não acharam o foco de ser oposição”, lamenta.


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